A ausência da educação ambiental nas escolas públicas fez com que as temáticas relacionadas à preservação da natureza ficassem restritas aos ambientes sociais dos ambientalistas e aos nichos universitários, onde esses temas são propriamente analisados, promovendo, assim, uma elitização das pautas ambientais.
Enquanto algumas escolas particulares conseguem implementar uma educação de boa qualidade voltada para o âmbito ecológico, pois possuem professores e coordenadores preparados para incluir, de forma substancial, o tema no projeto pedagógico da instituição, as escolas públicas muitas vezes falham em apresentar uma composição robusta no conteúdo sobre sustentabilidade que será lecionado para as crianças.
Nas escolas particulares, percebe-se que há um interesse em promover a formação dos professores para que eles possam transmitir a educação ambiental adequadamente para os alunos; sendo isso exigido pelos próprios pais das crianças que já estão mais familiarizados com a necessidade da sustentabilidade. Entretanto, nas escolas públicas, é notável destacar que o poder público não está investindo nos professores para abordar essa temática. Com isso, ao invés de receber uma formação apropriada, a falta de apoio governamental para os docentes das redes públicas transforma a internet no único meio disponível para coletar informações ambientais, deixando esses educadores ainda mais suscetíveis a receberem informações não confiáveis. Além da desinformação, o abandono do poder público na capacitação de práticas pedagógicas sustentáveis se mostra mais um empecilho que é vivenciado pelos professores das escolas públicas.
A popularização dos estudos ambientais é urgente. É preciso fazer com que as pessoas mais pobres adquiram o sentimento de pertencimento à luta pela preservação do meio ambiente e, mais do que isso, que elas compreendam que a vida delas também é diretamente afetada pelas mudanças climáticas que já estão em curso.
Infelizmente, a sociedade ocidental moderna foi responsável por solidificar uma diretriz intelectual que enxerga a natureza como um objeto detentor de um estoque infinito de recursos, pensamento este que centraliza o homem no papel de agente de dominação. Ao ter em mente que os seres humanos também fazem parte da natureza, essa visão reducionista é uma convicção que deve ser combatida no presente para que as futuras gerações modifiquem a forma de pensar, de agir e de se relacionar com o meio ambiente.
A educação ambiental se destaca ao criticar os modelos tradicionais de expansão, que visam o alto consumo sem pensar nas consequências que serão geradas para as outras formas de vida, sejam estes animais, plantas ou pessoas. Em um mundo onde 80% dos insumos são consumidos apenas para satisfazer 20% da população, a desigualdade social provocada pelas ações desenfreadas de insustentabilidade é resultante desta linha de pensamento consumista e voraz que precisa ser urgentemente controlada.
Em diversas culturas, a educação ambiental já se mostra inserida no contexto social e cultural de inúmeras pessoas. Os povos indígenas e os povos africanos desde sempre cultivaram uma afinidade especial e profunda com a natureza, sendo que ambos utilizavam, e ainda utilizam, do meio ecológico como um aliado para o desenvolvimento. Essa troca equivalente, por sua vez, é realizada com muito respeito e cautela, pois essas comunidades compreendem verdadeiramente a importância da natureza em suas vidas.
Foi no Brasil, através da conferência RIO-92, que mais de 170 países se reuniram através da ONU para solidificar os parâmetros mundiais do desenvolvimento sustentável, marcando um ponto histórico no compromisso do homem com o meio ambiente. Desde então, os debates a respeito do tema se intensificaram, mas ainda é necessário que a sociedade continue investindo em propostas eficientes para aprimorar a qualidade ambiental do planeta Terra, a casa de tudo e de todos.
Sendo o Brasil um país com dimensões continentais, o currículo escolar se diferenciava muito de uma região para outra, colaborando, em alguns casos, para as desigualdades regionais. Essa foi uma das justificativas para o surgimento da BNCC. Homologada em 2017 e implementada em 2020, a BNCC, Base Nacional Comum Curricular, propôs a integração dos conhecimentos gerais com o intuito de reverter um processo de fragmentação científica que assolava a ementa escolar brasileira. Entretanto, para que o programa consiga atuar de maneira efetiva, principalmente nas diretrizes do ensino público, é necessário que haja uma transformação vívida nos cursos de licenciatura, formando os professores para que eles adquiram uma visão holística sobre as diversas temáticas abordadas que serão direcionadas aos alunos. Ao tomar uma postura interdisciplinar, é necessário que a educação ambiental seja ensinada a partir de um modelo que se opõe ao ensino tradicional, levando em conta a responsabilidade deste ensino na formação das crianças como indivíduos ativos na sociedade contemporânea.
Anos antes, com os movimentos ambientais ganhando força na década de 90, os Parâmetros Nacionais Curriculares (PCN), criados em 1997, passam a tratar do meio ambiente como um tema transversal, que expressa uma relevância maior no currículo dos alunos, reforçando a importância da educação ambiental nas escolas. Conforme muitos especialistas afirmam que o consumismo compulsivo se porta como a maior ameaça à humanidade, a educação ambiental também se revela como um artifício que pode ser utilizado para subverter esses parâmetros de consumo atual. É nítido que a falta de informação se mostra como um dos principais desafios para o surgimento de uma sociedade ecologicamente responsável.
Para que as práticas ecológicas vigorem no ambiente escolar, devemos ter em mente que este aprendizado deve ser pautado na sensibilidade em relação ao conteúdo. De nada adianta fornecer uma compreensão mecânica e rasa, incentivada apenas pelos interesses dos setores corporativos que influenciam os currículos escolares, de um tema que deverá permanecer ativo na essência do aluno com o passar dos anos. Com isso, é preciso que as relações entre estudante e natureza sejam fortalecidas, promovendo o senso crítico da criança para as reflexões que abrangem o espectro ambiental. Muito mais do que uma simples filosofia, o verdadeiro desenvolvimento sustentável, que também engloba o contexto social, cultural e econômico, precisa ser ensinado desde cedo para que as futuras gerações não cometam os mesmos erros das anteriores.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.