O sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria naquele instante. É preciso salientar que a intenção era, sim, aprisionar a liberdade, mas ele, o sol, estava lá, e ela, a liberdade, também, assustada e sufocada pela fumaça preta das carcaças mal engraxadas que perambulavam em frente ao palácio.
Caros, conforme o previsto e o presumível, a parada militar de Jair Bolsonaro para sequestrar a paz e a liberdade do Brasil foi um fiasco. A velharia ávida pelo salário de marechal se empoleirava ao redor do símio do Planalto e sorria como num ato copular a cada geringonça obsoleta e fedendo a diesel que passava. Era como se tivessem entrado num túnel do tempo e voltado aos áureos tempos (assassinos) da Ditadura Militar (1964-1985).
O problema é que os veículos “de combate” pareciam os mesmos da época de Castelo Branco. Consigo até imaginar a gargalhada escrita do inesquecível e saudoso Paulo Henrique Amorim assistindo às peças de museu rangendo a seco no coração do poder político. Quá-Quá-Quá...
Essa brincadeira ridícula que se tentou vender aos brasileiros como “manobra hábil” e “ato de intimidação”, que “ameaçaria a democracia”, não passou de uma espécie de exposição de bonequinhos mofados dos Comandos em Ação.
A patifaria levou o nome do Brasil à comunidade e imprensa internacionais como um desconcertante vexame. Somos parte do anedotário mundial neste momento. Quem, em sã consciência, acha que vai produzir medo na população de uma nação continental com aqueles pau-velhos de cabeçote engripados, fumegando como panelões de sopa. O que falta a esses desocupados e sanguessugas é uma boa porção de vergonha na cara.
Bolsonaro não é um estadista habilidoso que baliza um golpe sob medida, matematicamente calculado. É apenas um idiota que consegue arregimentar muitos outros. Sua face abobalhada, de cabelos ao vento, nesse tipo de cerimônia tosca, como se estivesse num orgasmo infinito, é a prova de que sequer tem cacoetes de ditador “sério”.
Sua vitrine medalhada de generais golpistas e cínicos gosta mesmo é de mamata. Generosas pensões, pouco (ou nenhum) trabalho, gritaria e discursos que parecem saídos dos anos 60.
Recordo-me que, ainda ontem à noite (9), conversava com alguns leitores sobre o nervosismo que imperava em parte deles com relação à intimidatória e provocativa parada militar convocada por Bolsonaro para o mesmo dia em que seria votado o já falecido projeto do voto impresso. Teremos um golpe? Estamos às portas de uma ditadura formal? O Jair vai mandar bala pra cima do STF?
Nada disso.
Já havia adiantado que o tal desfile de carros de combate era um sinal de infantilidade e de enfraquecimento acentuados.
Alguém conhece um ladrão de residências que marca horário para desfilar nas calçadas da vizinhança, com uma escada a tiracolo, e um cartaz onde se lê "Pulo muros e furto objetos de valor: tomem cuidado!"?
Pois então... Quem aplica golpe de Estado não passa de um ladrão de casas e eles costumar agir quando todos estão dormindo ou distraídos. Não é normal, tampouco eficiente, convocar desfiles cafonas em fardinhas démodés para anunciar que se está tomando o poder à força.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.