Nossos vizinhos, há muito tempo, vêm nos ensinando com é que se faz com quem atenta contra a soberania popular e emprega o golpismo contra a democracia. Lição velha, que vem desde as ditaduras dos anos 60, 70 e 80, mas que ganhou um novo capítulo ontem (27).
A Bolívia prendeu o ex-comandante da Marinha que atuou de forma decisiva no golpe de Estado que derrubou o presidente constitucional Evo Morales, em novembro de 2019. O país ficou em chamas e entrou em convulsão social após um levante encabeçado por setores reacionários da sociedade, com patrocínio, apoio e participação fundamental das Forças Armadas de lá.
O almirante Orlando Mejía recebeu a visita da Polícia Nacional em sua casa, onde repousava tranquilamente, de moletom e pantufas, após uma ordem judicial vinculada a um processo que apura sua participação na repressão brutal a movimentos populares na localidade de Senkata, na cidade de El Alto, próxima de La Paz.
Os juízes também deram ordens de prisão e detenção para outros 12 militares de alta patente que participaram da quartelada sangrenta que levou Jeanine Áñez ao poder, de forma ilegal e violenta. A espertalhona golpista segue presa numa penitenciária da capital, acusada de sedição e terrorismo. Seus comparsas pediram apoio da OEA e da União Europeia e foram solenemente ignorados.
Quem tem vergonha na cara não defende essa gente.
Por aqui, não bastassem os anos de impunidade e silêncio dos quais gozaram líderes do Golpe de 1964 e outros repressores e torturadores, temos agora que engolir ameaças de crosta embolorada que jurávamos não existir mais no Brasil.
O general Walter Braga Netto, pitbull arisco do genocida tornado presidente Jair Bolsonaro, que hoje ocupa o Ministério da Defesa, aponta o dedo para a República e diz que se os caprichos psicóticos de seu amo não forem atendidos, não haverá eleição no país, rompendo com a regularidade dos pleitos que são um dos elementos que ainda sustentam minimamente nossa combalida democracia torta.
Como se essa patacoada toda não fosse suficiente, descobrimos nos últimos dias que os vencimentos de Braga Netto, assim como de outros oficiais do generalato estelar de Bolsonaro, somam valores exorbitantes. São verdadeiros e legítimos exemplares da típica mamata do alto escalão do serviço público nacional.
Como brinde pela fidelidade ao genocida e infidelidade ao povo e à Constituição, Braguinha levou a bagatela de R$ 100,7 mil de salário no mês de junho deste ano. Um mimo que coroa sua atuação nada legalista à frente de um cargo que deveria zelar pela tranquilidade institucional do Brasil.
Caros, até quando permaneceremos sustentando a pão de ló esses parasitas de Forte Apache que conspiram no nosso cangote? O lugar de milico golpista é atrás das grades, dormindo em colchonete e tomando café em canequinha de alumínio, como o almirante Mejía, da Bolívia.