Comissão Bíblica de Inquérito – Por pastor Zé Barbosa Jr

Como resisto e penso que a ironia e o humor são formas de resistência, e a Bíblia também é um livro repleto de ironias e denúncias proféticas da injustiça, imaginei alguns versículos e sua ligação com personagens dessa “CBI”

Foto: Agência Senado
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Um dos assuntos mais comentados no dia de ontem (2) após o depoimento do senhor Carlos Wizard, que inventou a modalidade do depoimento mudo, foi o uso de um versículo bíblico em sua chegada ao Senado como testemunha. Wizard entrou como entram os lutadores de MMA (só faltou a música), cercado de seus asseclas e portando um cartão com a referência Bíblica de Isaías 41.10: “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça.”

A Bíblia, que já havia sido usada como escudo na entrada do deputado Luis Miranda, parece que se tornou assessório de muitos depoentes, que têm, pelo menos, duas finalidades bem nítidas: transmitir uma ideia de verdade/lisura e comunicar ao eleitorado “cristão” (católico e evangélico) um compromisso de fé que, óbvio, pode redundar em muitos votos no próximo pleito.

Como pastor, sinto-me incomodado e transtornado pelo uso perverso do texto bíblico para defender o indefensável e, principalmente, ir contra os princípios do Evangelho, que são o amor ao próximo, a defesa da dignidade humana e vida em sua plenitude, princípios diariamente solapados e execrados pelo desgoverno Bolsonaro com o apoio, pasmem, de muitos líderes religiosos, padres, pastores e organizações eclesiásticas vendidas ao fascismo em troca de favores e posições privilegiadas.

Mas, como ainda resisto e penso também que a ironia e o humor são formas de resistência (rir é um ato de resistência, como disse o inesquecível Paulo Gustavo), e a Bíblia também é um livro repleto de ironias e denúncias proféticas da injustiça e, na maioria dos casos, do abuso cometido por lideranças religiosas que se aliam facilmente a governos autoritários, imaginei alguns versículos e sua ligação com personagens dessa Comissão Bíblica de Inquérito.

Provérbios 14.25 poderia estar na “plaquinha” de todo depoente: “Uma testemunha veraz salva vidas, quem profere mentiras é impostor.” Nada mais condizente com essa CPI, onde os que mentem, mentiram sendo cúmplices do genocídio de mais de meio milhão de brasileiros e brasileiras. E a gama de impostores não para de crescer, de Nise Yamaguchi a Carlos Wizard, que até calado, mente. E complementando com Provérbios 19.5 “A testemunha falsa não ficará sem castigo, e aquele que despeja mentiras não sairá livre”.

Toda vez que o senador Marcos Rogério, o Rolando Lero da CPI, pegasse a palavra, alguém poderia subir uma plaquinha com Romanos 16.18: “estão servindo... a seus próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam os corações dos ingênuos.”

Já quando Flávio Bolsonaro estiver com a palavra, poderia a parecer a legenda com João 8.44: "Vocês pertencem ao pai de vocês, o diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira.”

E quando, enfim, chegar a hora do relatório final, aquele que certamente apontará o responsável pelo genocídio que enfrentamos, poderia estar o texto de Provérbios 6.16-19, que resume perfeitamente Bolsonaro e seu desgoverno:

“Há seis coisas que o Senhor odeia, sete coisas que ele detesta: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que traça planos perversos, pés que se apressam para fazer o mal, a testemunha falsa que espalha mentiras e aquele que provoca discórdia entre irmãos”.

E ainda Mateus 25.41-43: “Apartai-vos de mim, malditos... Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.”

Cuidado! Muito cuidado! Quem com Bíblia fere, com Bíblia será ferido!

Amém!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.