Sete anos sem Rubem Alves: a saudade que se faz poesia! – Por pastor Zé Barbosa Jr

Inquieto, provocador e cheio de poesia, o mineiro de Boa Esperança é ainda referência para educadores e teólogos em todo o Brasil, principalmente os que creem na beleza da educação e na Teopoesia

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O ano era 1999. Fui apresentado a um livro que me chamou logo a atenção pelo título: “Protestantismo e Repressão”. Devorei o tal livro em poucos dias e começava ali uma mudança que até hoje acontece, de desconstrução teológica e surgia uma fé mais inclusiva, dialogal, ainda mais militante e totalmente envolvida nas questões humanas e sociais. O autor era, para mim, um desconhecido até então, um tal Rubem Alves, “ex-pastor”, teólogo, educador, psicanalista e, a partir daquele momento, um dos meus mentores.

Sim! Ainda tem gente que desconhece o lado teológico e pastoral do grande escritor e pensador, que nos deixou há exatos 7 anos, ou melhor, foi encantado no dia 19 de julho de 2014.

Primeiro brasileiro a propor uma “teologia da libertação” (título original de seu trabalho de 1969), na época da ditadura foi acusado de conduta subversiva pela cúpula da Igreja Presbiteriana do Brasil (da qual fazia parte e era pastor) e perseguido pelo Regime Militar o que o fez abandonar a igreja e se exilar nos Estados Unidos, onde fez seu doutorado em filosofia no Seminário Teológico de Princeton.

Aqui abro um parêntese: pelo visto a cúpula da Igreja Presbiteriana do Brasil ou não aprendeu nada ou realmente é afeita a regimes ditatoriais e governos autoritários e desumanos, vide seu total apoio e aparelhamento no atual desgoverno de Jair Bolsonaro. Fecha parêntese.

Inquieto, provocador e cheio de poesia, o mineiro de Boa Esperança é ainda referência para educadores e teólogos em todo o Brasil, principalmente os que creem na beleza da educação e na Teopoesia, categoria que Rubem Alves sugeria para substituir a teologia engessada e perversa dos fundamentalistas. Nada mais urgente como uma educação libertadora e uma teologia que se abra ao novo e à poesia em tempos tenebrosos e medíocres como o que vivemos.

O mestre Rubem Alves continua atual e necessário quando vivemos tempos sombrios onde a educação (hoje tragicamente dirigida por um Ministro da Igreja Presbiteriana) e a religião são (ou continuam sendo) espaços de repressão, condenação, opressão e punição, exatamente como denunciava em seu livro que me abriu os olhos para a realidade. Aliás, o livro foi relançado em 2005 com o título “Religião e Repressão” e eu recomendo a todos que queiram entender esse uso da religião como fator de dominação e repressão de corpos e mentes.

Aprendi com Rubem a ser mais leve, a ter a teologia como um brinquedo, lúdica e libertadora e, mais que isso, atrelada à vida, à política, à cidadania, a construção de um mundo melhor. Devo a Rubem Alves a libertação de minha ação pastoral dos meios conservadores/fundamentalistas e a busca de um diálogo mais aberto e sincero (onde não haja só o falar, mas principalmente o ouvir) com outras religiões, experiências, vivências e “sabores”, como ele gostava de dizer. “Saber é sabor”.

Termino com as palavras do próprio Rubem Alves, em um de meus livros prediletos: “Lições de Feitiçaria”:

“É preciso que nos tornemos crianças de novo. Gostaria que a teologia fosse isso: as palavras que tornam visíveis os sonhos e que, quando ditas, transformam o vale de ossos secos numa multidão de crianças.

Daí a sugestão que faço: que a palavra teologia seja substituída pela palavra teopoesia: nada de saber, o máximo de beleza.”

Obrigado, Mestre!

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.