Em 2020 a expectativa do Banco Mundial era que 115 milhões de pessoas estariam sendo empurradas para a situação de extrema pobreza, número que poderá crescer a 150 milhões em 2021.
O aumento da desigualdade social veio à tona com a pandemia de Covid-19, mas não apenas por que a extrema pobreza aumentou, mas porque os ricos ficaram ainda mais ricos. De modo que “a riqueza dos maiores bilionários do mundo aumentou em cerca de US$ 5 trilhões, de acordo com a revista americana Forbes”.
Como os ricos não têm escrúpulos e nenhum pudor em exibir sua riqueza em meio à tragédia mundial, o bilionário britânico Richard Branson, fundador da empresa aeroespacial Virgin Galactic, inaugurou oficialmente a era do turismo espacial com um voo suborbital que decolou às 11h30 da manhã do Espaçoporto América, neste fim de semana, no Novo México, Estados Unidos.
É fato que a extrema pobreza vinha declinando nos últimos anos, porém esse cenário se configurou muito por conta do crescimento da China, que conseguiu tirar muita gente dessa situação deplorável em seu território. A economia chinesa não é totalmente capitalista, até porque a intervenção estatal no setor privado é um projeto de nação de desenvolvimento.
Mas dependendo do capitalismo neoliberal, do monopólio dos acionistas, o aumento da desigualdade é uma consequência natural. O estrago na pandemia só não foi maior por conta da atuação do Estado, que de forma bem tímida, insuficiente para muitas populações, impediu uma hecatombe.
A inauguração da era espacial em meio a um cenário de aumento da extrema pobreza é a revelação do que é de fato o capitalismo. Depois de sua viagem surrealista, o empresário aterrissou em um mundo devastado pela pandemia e disse: “Estamos aqui para tornar o espaço mais acessível a todos”. “Bem-vindos ao amanhecer de uma nova era espacial,” complementou.
Enquanto é noite para centenas de milhares no mundo, Branson escreve no seu Twitter: “Está um lindo dia para ir ao espaço”. Sem dúvida alguma uma afronta à classe trabalhadora. Mas é deste modo que o capitalismo evoluiu. É de seu caráter atingir o pico enquanto muitos estão soterrados na miséria. A imprensa rasgou elogios ao empresário britânico, principalmente por se tratar de uma atitude de iniciativa privada.
E é da propriedade privada a proveniência da desigualdade. Rousseau diria: “Conclui-se que, sendo quase nula a desigualdade no estado de natureza, deve sua força e seu desenvolvimento a nossas faculdades e aos progressos do espírito humano, tornando-se, afinal, estável e legítima graças ao estabelecimento da propriedade e das leis.”
Para Marx a propriedade privada é a raiz de toda alienação e do trabalho alienado. E no sistema capitalista, "por certo, o trabalho humano produz maravilhas para os ricos, mas produz privação para o trabalhador". E no mundo de hoje, no qual o salário desvaloriza-se perante o preço de outras mercadorias, o trabalho tende a produzir “coisa boas para os ricos, mas produz a escassez para o trabalhador. Produz palácios, mas choupanas para o trabalhador. Produz beleza, mas deformidade para o trabalhador".
A solução é de fato abolir o capitalismo, mas não privar “ninguém do poder de se apropriar dos produtos sociais”, mas “eliminar o poder de subjugar o trabalho alheio por meio dessa apropriação”. Enfim, o socialismo ainda é a solução mais viável para sucumbir a disparidade brutal que existe entre os seres humanos.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.