O presidente Jair Bolsonaro adota uma retórica de um homem revoltado que faz Piotr Kropotkin, anarquista russo e autor do clássico “Um homem revoltado”, revirar-se no túmulo.
A revolta do chefe de Estado é contra o nada, inútil e não tem o poder de alterar as estruturas tradicionais de dominação, causas de fato da miséria do povo.
Pelo contrário, essa revolta espúria esconde as razões da pobreza, das quais o presidente é um grande entusiasta.
Desde quando tirar uma máscara da cara é se revoltar contra alguma coisa? Desde quando mandar jornalista calar a boca é contestar o sistema? Provocar aglomeração quando as autoridades médicas recomendam o isolamento social tornou-se um ato de rebeldia. Que espetáculo de idiota...
Essa manipulação da indignação é impressionante. O presidente desperta a ilusão da crítica, da independência, do ser dono de si, com atitudes banais e mesquinhas. Não há nada de autenticidade, de afronta àqueles que oprimem a liberdade em suas ações, apenas enganação e alienação.
O revoltadinho do Planalto sai com sua motinha, junta sua patotinha e muitos acham que ele está contestando alguma coisa. Tadinho... O que estão pensando, seja onde estiverem, os revolucionários de verdade, de George Washington a Che Guevara?
E pior, essas atitudes manipulam também a crítica ao seu governo. A oposição se revolta contra esse teatro, e toda a crítica fica no âmbito da superestrutura, deixando a base da exploração ilesa de toda crítica.
Não foi Bolsonaro que inventou a crítica à imprensa. Ele copiou da esquerda e manipulou, separando a posição da mídia dos interesses econômicos que estão por traz dos jornalistas de aluguel. Bolsonaro tirou todo o conteúdo crítico da crítica que faz à imprensa.
A pessoa que compra sua rebeldia acredita que está sendo rebelde quando na verdade está fazendo justamente o oposto, está cooperando com todo o sistema, pois a crítica de Bolsonaro nunca chega à raiz do problema. São espalhafatosas, polêmicas, mas superficiais. São rebeldes na forma, mas conformistas no conteúdo. Portanto, são alienantes.
Seus pitis, gritarias e palavras de baixo calão só servem para provocar paixões, opostas e aliadas. Servem para esvaziar a crítica, provocar revolta sem compreender o objeto criticado. O termo “revolta” regride ao seu sentido pré-moderno, referindo-se ao movimento dos astros em torno de si. Ou seja, trata-se de palavras que nada mudam, provocam uma volta de 360°, fazendo tudo permanecer do jeito que está.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.