Ontem foi a primeira vez que, por acaso, parei para ver o BBB 21. Sou da turma que não gosta do reality, mas também da turma que não critica quem assiste. Apenas não vejo. E ponto. No entanto, ontem foi um dia que valeu a pena assistir, por ver o “histórico” do participante que acabou eliminado, Gil do Vigor. E confesso que me marcou profundamente. Não sei quem vencerá, mas já acredito que o pernambucano Gil já tenha sido o grande vencedor, por um simples motivo: Assumir e celebrar tanto sua homoafetividade quanto sua fé.
No momento de “histórico” de Gil, uma frase me marcou muito. Disse ele, aos prantos, algo do tipo: “é triste demais saber que o livro que eu tanto amo diz que eu sou maldito diante de Deus!”. Como isso mexeu comigo. Há alguns anos tenho caminhado junto à comunidade LGBTQIA+ e, principalmente, lidado com muitas pessoas que atravessam o drama de Gil: São homossexuais e têm uma fé viva no Cristo. Contra tudo e todos, já que recebem críticas dos dois lados, da maioria esmagadora dos cristãos por ser homoafetivo e por parte da comunidade LGBTQIA+ por insistir numa fé que, para muitos, é a representação e a legitimação da opressão que sofrem.
Lembro-me quando, em 2015, fui com um grupo de cristãos à Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, num ato que acabou virando um movimento, chamado “Jesus cura a homofobia”, com cartazes e faixas que pedíamos perdão aos gays, lésbicas, travestis, transexuais, queers, intersexos, etc, pela forma como a Igreja lhes excluiu durante anos/séculos dessa possibilidade de fé sem abrir mão de sua sexualidade “diversa”. Foi um momento marcante. Tão marcante quanto o ato, 15 dias depois, junto ao padre Júlio Lancellotti, de lavarmos os pés da Viviane Belebony, transexual que apareceu “crucificada” durante a Parada.
Tudo isso por conta de uma leitura perversa e excludente do texto bíblico que, não hesito em afirmar (e o faço juntamente com muitos e muitas teólogos e teólogas), não condena a homoafetividade em momento algum, sendo os textos “condenatórios” geralmente falhos em suas interpretações e, algumas vezes, traduções equivocadas e manipuladas para condenarem pessoas “ao inferno” simplesmente por viverem de forma tranquila e feliz (como deveria ser) sua sexualidade diversa do padrão heterocisnormativo de nossa sociedade hipócrita.
Gil foi um corajoso! Gil é um corajoso! Depois de sua retrospectiva disse algo que me emocionou: “Aqui dentro descobri que sou amado por Deus do jeito que eu sou, sem precisar ser outra coisa senão eu mesmo!”. Ah, Gil!!! Pois não é que foi no BBB que você realmente se encontrou com Deus? Infelizmente na maioria das igrejas você não o encontraria... Ele (ou Ela) passa longe desses lugares repletos de juízes e algozes. Deus é Amor, e Amor que gera Liberdade! Sim, Gil, você pode ser gay e Cristão. E celebrar isso!
E Deus, nessa hora, faz surgir um arco-íris no céu, para celebrar mais um filho dele que O encontra, feliz e pleno em sua diversidade sexual, e podendo, profeticamente, dizer que, enquanto isso não for celebrado por todos... “O Brasil tá lascado!”
Vem ser feliz aqui fora, Gil! E Deus sorri contigo!
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.