Em fevereiro deste ano, um dos primeiros pronunciamentos de Joe Biden ao tomar posse da presidência dos Estados Unidos foi defender os sindicatos. Ele disse: "Os Estados Unidos não foram construídos por Wall Street, foram construídos pela classe trabalhadora, e os sindicatos construíram a classe trabalhadora. Os sindicatos colocaram poder nas mãos da classe trabalhadora".
Biden afirma que são os sindicatos que fortalecem a classe trabalhadora, que lhe dão voz, poder, que "nivelam o jogo" entre capital e trabalho. Biden elenca várias das conquistas da classe trabalhadora, fruto da luta sindical: saúde, segurança, melhores salários, proteção contra discriminação racial e assédio sexual e explicita a importância dos sindicatos para a melhoria de toda a classe trabalhadora, mesmo aquela que não é sindicalizada. Assista ao vídeo:
Antes do neoliberalismo iniciado por Ronald Reagan, 30% dos trabalhadores estadunidenses eram filiados a sindicatos. Hoje, os Estados Unidos têm cerca de 10,8% de seus trabalhadores sindicalizados. É uma taxa muito baixa mesmo se comparada, inclusive, à nossa realidade onde os sindicatos, federações, confederações e centrais vêm sofrendo ataques sistemáticos em seu poder de organização, mobilização, filiação, financiamento e de ação sindical.
Do golpe de 2016 para cá a classe trabalhadora brasileira está mais precarizada e menos protegida, com a reforma trabalhista, previdenciária e em um cenário próximo, com a reforma administrativa que tem na mira desta vez, os trabalhadores do serviço público.
Por isso, chama a atenção da classe trabalhadora brasileira que o presidente do principal país capitalista do mundo seja um defensor dos sindicatos e diga explicitamente que a classe trabalhadora tem direito a uma fatia da riqueza da nação.
Do discurso à ação
Desde sua campanha Biden se comprometeu a fortalecer os sindicatos e a negociação coletiva. Neste sentido, o novo presidente dos Estados Unidos se distancia 180 graus de Trump e dos governos neoliberais e autoritários como de Bolsonaro. Biden se aproxima da tradição dos governantes alemães pós segunda guerra mundial. A Alemanha é um dos países onde o sindicalismo é muito forte e consequentemente os direitos dos trabalhadores.
No twitter ainda em fevereiro, Biden fez referência direta aos trabalhadores do Alabama, onde eles lutam contra a gigante Amazon para criar um sindicato e mesmo sem citar a Amazon, mandou um recado forte: "Trabalhadores no Alabama- e em toda a América- estão votando sobre a possibilidade de organizar um sindicato. É uma escolha de vital importância -que deve ser tomada sem intimidação ou ameaças por parte dos empregadores".
A Amazon é conhecida por fazer campanha de terror para conter a formação de sindicatos:
Ontem, ao lançar o Plano de Emprego Americano (The American Jobs Plan), o presidente dos Estados Unidos voltou a reforçar a importância dos sindicatos: "O Plano de Emprego Americano fortalecerá os sindicatos, ajudará a proteger os trabalhadores e reconstruirá nossa economia".
Para que os esforços de fortalecer o sindicato e a negociação coletiva se tornem realidade Biden criou uma força-tarefa que será liderada por sua vice, Kamala Harris, e pelo secretário do Trabalho dos EUA, Marty Walsh.
No prazo de 6 meses o grupo de trabalho se reunirá com sindicatos e estudiosos para emitir recomendações.
Ao mesmo tempo, Biden busca reforços também no Congresso para regular as grandes corporações da era do capitalismo de plataformas, as big techs.
Diferentemente de nós, trabalhadores brasileiros, os trabalhadores estadunidenses têm alguns bons motivos para celebrar o 1° de maio.