O pastor-ministro da educação (infelizmente tudo aqui tem que ser escrito com minúsculas), Milton Ribeiro, que já disse que seu trabalho como ministro é “mais espiritual do que político” e que nomeou uma assessora que defende o “retorno aos princípios bíblicos da educação”, apareceu novamente esta semana nos noticiários ao declarar que a diretriz de políticas educacionais do Brasil "deve vir e tem que vir em consonância com a visão educacional, do projeto, do senhor presidente da República”, o que significaria um caos total na educação.
É sempre bom lembrar que Bolsonaro não tinha nenhum projeto de construção de algo. Desde a campanha deixou claro que tinha um único objetivo ao tornar-se presidente: destruir tudo o que havia. Não há inocentes! Quem votou e apoiou Bolsonaro votou e apoiou um projeto de destruição. Simples assim. Sem o que oferecer no lugar. Apenas destruir pelo prazer de por abaixo anos e décadas de conquistas e avanços.
Mas quero voltar ao tema da “missão espiritual” e do retorno “aos princípios bíblicos da educação” e, em vez de me opor a esses princípios, quero ressaltá-los. Aliás, penso até que poderia ser bem interessante um ensino realmente bíblico nas escolas brasileiras. Caso isso acontecesse, os alunos poderiam aprender coisas bem interessantes, como:
1) Que o conceito de família é cultural e pode mudar de acordo com o tempo. Sim, a Bíblia traz vários modelos de família e todos são fruto de sua cultura patriarcal, mas diferentes do que dizem ser o “modelo divino”. Logo, o conceito de família seria bem interessante sob a perspectiva bíblica.
Vejam só: Abraão teve duas mulheres (Sarai e Quetura) e uma concubina (Agar). Jacó (Israel) teve duas mulheres (Lia e Raquel) e duas concubinas (Bila e Zilpa). Davi, o homem “segundo o coração de Deus” teve oito mulheres (uma delas “arrancada” do seu marido) e ainda um caso homoafetivo com Jonatas (que alguns insistem numa ginástica hermenêutica para negar). E Maria ainda foi “mãe solteira”.
2) Que a reforma agrária e distribuição de rendas não são “ações comunistas”, mas simplesmente práticas mais justas de distribuição de terras e direitos, para que “todos tenham vida e a tenham em abundância”. A reforma agrária é totalmente defendida nos “livros bíblicos da lei” e também acolhida pela igreja nascente no Novo Testamento, onde “ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham. (...) Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um. ( Atos 4:32-35)
3) Que o modelo de julgamento de uma nação justa passa por uma política de segurança alimentar justa (“eu tive fome, e vocês me deram de comer”); uma política de saneamento básico e água para todos (“tive sede, e vocês me deram de beber”); uma política de acolhimento e cuidado de imigrantes/refugiados (“fui estrangeiro, e vocês me acolheram”; uma política de dignidade humana (“necessitei de roupas, e vocês me vestiram”); uma política de saúde pública gratuita e irrestrita (“estive enfermo, e vocês cuidaram de mim” e uma política pública de segurança que vise a recuperação e não a punição do preso (“estive preso, e vocês me visitaram”) – (Mateus 25:35,36)
Esses são apenas alguns dos “princípios bíblicos” que, caso fossem ensinados e aplicados em nossa sociedade fariam total diferença e nos livrariam, por exemplo, da bizarra figura que ocupa hoje o posto mais alto da política brasileira. Definitivamente, Jair Bolsonaro não passa de um falso messias e os padres/pastores que o apoiam, além de desconhecedores do livro que tanto dizem defender, são cúmplices de algumas das páginas mais terríveis de nossa História e carregam suas mãos sujas de sangue por se venderem e traírem o Evangelho!
Quem tem ouvidos, ouça!
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.