Há tempo viemos escutando vários discursos na seara política brasileira envolvendo a retórica do “desenvolvimentismo” como debate de ciência econômica e soluções ao ultraliberalismo que a cada dia se mostra mais perverso com a população, que é transformada em apenas números, por uma política de mercado, rentista, entreguista e principalmente de acumulação de riquezas pelas elites nacionais.
Por outro lado, presenciamos o debate em vários partidos, na academia, e presenciamos teses da retomada do “desenvolvimentismo”, seja na forma de nacional desenvolvimentismo, neodesenvolvimentismo, como uma unívoca solução econômica progressista, para países como o Brasil em pleno século XXI, propondo um novo impulso a industrialização começada em 1930.
Será que após noventa e um anos, a solução correta é retomar literalmente o “desenvolvimentismo”, tal qual como política econômica, de progresso da sociedade brasileira?
A ideia atual do “desenvolvimento” tem sido evitada e até desaparecida nos países periféricos por implicar uma linguagem política, que não mais dialoga socialmente em economias que propõem o permanente e constante crescimento sustentável.
Foi na década de 90 que víamos o “desenvolvimento permanentemente sustentável”, como opção de uma fórmula econômica de crescimento e integração da população através do crescimento do poder de compra, como crescimento social.
O equilíbrio hoje é visto nas novas gerações, como “bem-estar”, a convivência com seu meio ambiente, com suas atribuições como indivíduo na realidade em que vive, e claro, olhando o seu meio ambiente, saúde, educação, alimentação e crescimento, não somente econômico, mas de cidadão integrado à sua nação e ao seu desenvolvimento como ser humano, com dignidade, trabalho e ganhos suficientes para viver em uma nova sociedade solidaria.
O “Brasil potência”, no nosso entendimento, segue sendo a razão, pela qual intelectuais de esquerda e direita seguem falando em “desenvolvimento”, ideia esta muito arraigada nos economistas das décadas de 1950 a 1970.
A retomada discursiva evocando muitas vezes Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e em até certos anos, o governo de facto, imposto pelo governo ditatorial pós 1964, merece certa reflexão nos processos econômicos da humanidade, quase cem anos depois.
Este conceito meramente econômico, ilude, ludibria e engana o desenvolvimento social no que hoje parece ser o mais importante para a humanidade, os índices de educação, saúde, trabalho, teto e dignidade na construção de um projeto de nação. Ou seja, não podemos ignorar ou atrasar a refundação republicana e popular do Brasil.
Como exemplo, não podemos chamar o governo João Goulart de “desenvolvimentista”, aos moldes do governo de Juscelino Kubitschek. Tanto Jango como Vargas no seu segundo governo partiam de forma prioritária colocando primeiro a satisfação das necessidades básicas do povo (terra, trabalho, alimentação, moradia, saúde, educação) através de profundas reformas institucionais, como as “Reformas de Base”, para que o POVO FOSSE GOVERNO.
Diferente do “desenvolvimentismo” de Juscelino, que ao propor, através da industrialização nacional, o aumento de bens de consumo duráveis, o país aumentava a dependência de insumos estrangeiros, que fortalecia as elites no setor financeiro, na formalização do “dumping”, que produzia a evasão de divisas e a remessa de lucros formais nas matrizes estrangeiras, criando também até os dias de hoje uma forte burguesia industrial.
O governo Juscelino Kubitschek eleito em 1955 obteve um desenvolvimento grande, construindo uma forte base industrial. Trouxe capital e investimentos estrangeiros, fábricas de automóveis e expansão de crescimento econômico, mas não resolveu o problema da heterogeneidade estrutural.
O Brasil necessita hoje, mais do que um programa ou modelo “desenvolvimentista”, mas buscar no cerne de sua História, mais profundamente, os motivos que levaram a quebra constitucional através do Golpe de Estado de 1964, que impediram a construção de um PROJETO DE NAÇÃO dentro da legalidade, transformista, revolucionário, do povo para o povo.
Construir os pilares de uma nação independente, solidaria, massivamente voltada aos interesses populares e orientada a diminuir as diferenças sociais, hoje em pleno século XXI, torna-se mister olhar não somente ao desenvolvimento através de índices meramente econômicos, ou ao crescimento progressivo da retomada industrial de bens de consumo, dentro de parâmetros tradicionais do capitalismo, como também faz-se necessário a compreensão de que, para diminuir a acumulação de valores nas mãos de algumas poucas empresas e famílias, é necessário mudar as estruturas dos meios de produção, e para isto precisamos e necessitamos construir um Estado que priorize as necessidade das pessoas, o bem estar comum, e não a o bem estar do mercado e seus índices tradicionais de crescimento.
O “bem-estar” dos cidadãos hoje, em pleno século XXI é um valor que não é levado em conta nos índices econômicos, na avaliação de orçamentos públicos e foi ignorado desde os anos 30, onde os economistas não o incluem no crescimento da renda nacional.
As políticas econômicas públicas estão baseadas em um crescimento constante e infinito do crescimento do PIB, o que a longo prazo significa também um crescimento populacional infindável para absorver os produtos manufaturados produzidos pela indústria, um consumismo desenfreado de bens constantemente renováveis, que geram um lixo industrial catastrófico produzido pelo descarte da humanidade, que destruirá a fauna, a flora, os rios, os mares e por fim o planeta, destruindo a própria razão da existência.
Onde estará o progresso no século XXI? No desenvolvimentismo? Ou nas premissas das necessidades dos seres humanos?
O progresso está no combate à fome, na boa saúde populacional, no bem-estar das civilizações, na concórdia entre os comuns, ou melhor diríamos, em uma economia em perfeito estado de equilíbrio humano, ecológico e de detenção do lucro sem propostas inseridas na vida humana, baseadas apenas na modernidade do consumismo.
Neste centro gravita o progresso, na realização do “bem-estar “de cada indivíduo da humanidade, não na tônica do desenvolvimento puro, simples e matemático, pois a acumulação de índices de “progresso”, não é sinal de avanço, nem sequer de modernidade.
Parece que hoje, diante da discussão no Brasil eleitoral que se aproxima em 22, principalmente entre os setores progressistas, que discutem e debatem o desenvolvimentismo como forma de antepor-se a este ultraliberalismo entreguista, vai continuar ativo.
Vale o debate sobre o desenvolvimentismo.
Diante deste estado catastrófico na economia, na política, diante o descaso dos seres humanos, se iremos colocar o mesmo como primórdio ou não do modelo salvador, como modelo alternativo, se com ou sem capital externo para este desenvolvimento, se é neo ou se é nacional, se é do trabalhismo ou se é uma alternativa socialista, tudo é discutível, mas nada disso comportará mais o prosseguimento do debate, se não olharmos profundamente onde colocamos o ser humano, o seu bem-estar, e sua integração a uma nação solidaria.
Precisamos construir uma nação solidária, culturalmente brasileira, socialmente igualitária nas oportunidades de crescimento de seus habitantes e não pelo “crescimento” e desenvolvimento puramente numérico da economia, através de empresas, conglomerados, monopólios ou do sistema financeiro ou novos tipos de geração de empregos.
O Brasil é do seu povo e este deve estar na frente uma nova e equilibrada sociedade, em primeiro lugar.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.