Com esse título, em 25 de maio do ano 1 da pandemia, estreou Alarido, uma coluna de comentário político na Queimada, revista em até 1 mil caracteres ancorada no instagram. Concebida por um coletivo de escritoras & designers (Fernanda Ficher, Luli Penna, Maria Homem, Rita Palmeira), foi planejada para durar os 3 meses daquilo que achávamos que seria a duração máxima do pior período da quarentena. Acabou se estendendo por mais um mês, mas o fôlego para fazer uma publicação com tantas colaboradoras entre texto e imagem, com três posts diários, arrefeceu. O projeto foi encerrado a 24 de agosto de 2020.
Alarido 2020 procurou fazer uma espécie de crônica da escuta dos sucessivos alarmes do que reverberavam na tensão eletrizada daqueles dias nervosos do primeiro ano pandêmico, quando parecíamos estar prestes a explodir de indignação & tristeza, raiva & dor – e mal sabíamos que isso era só o começo.
Quando a pandemia dobrou o ano, a meta redobrou e implodiu. Os impactos da ação do vírus deixado à solta pelos sucessivos desastres do governo genocida, a sensação de urgência de “fazer alguma coisa”, sem poder sair às ruas para gritar FORA BOLSONARO, a aflição de ter de encarar mais um ano ouvindo apenas a nossa própria impotência, transformou-se em angústia quase insuportável. Então, percorri o caminho inverso: o que, como, onde falar mais alto e para mais gente?
Encerradas nos nossos feudos das casas-ofício, do alto da precariedade desse jornalismo fragmentado, achei que seria boa ideia fazer o percurso reverso. A partir do dia 1 de março, quando o país pôde ouvir Lula de novo, com a voz clara, os gestos precisos e o discurso que enfim delimitou o campo da esquerda da luta antibolsonarista, o recado dele chegou a mim como um chamado à ação. Lula lá, eu aqui, e a minha bolha de acolhimento e proteção, novamente eletrizada, mas dessa vez na chave da esperança e da luta possível, passamos os dias usando todos os recursos tecnológicos à disposição (e com seus riscos) para fazer de nossas casas o que deveríamos estar fazendo na rua: política. Daí foi juntar alguns pontos e refazer parcerias para recriar Alarido, agora na Fórum.
Se na Queimada eu era uma entre muitas mulheres incríveis, aqui a solução foi chamar a amiga Pati Cornils, vizinha-gênia e jornalista com trajetória em muito semelhante. Há anos debatemos, pelas redes e pelas ruas, as alternativas políticas e profissionais de prosseguir fazendo jornalismo de verdade sem ter onde publicar.
A equipe editorial e gráfica da Queimada cedeu a ilustração da Luli Penna para a sessão (os passarinhos nos fios tensos da pauta de metal) e o nome da coluna. Renato Rovai e Dri Delorenzo, a casa deles: a plataforma para falar para mais gente. Da ideia original, além do nome e, de certa forma, a forma difícil de uma coluna jornalística, queremos manter a regularidade de publicação (três vezes por semana) e experimentar esse novo-velho formato do blog. Também trouxemos algumas decisões editoriais criadas pela equipe gráfica, como sinalizar cada seção da revista com imagens em vez de nomes. O meteoro vermelho desenhado pela @lulipenna, que ilustra essa primeira coluna, por exemplo, era uma vinheta gráfica usada em momentos em que as autoras de textos escreviam em casos excepcionais, como uma aviso radiofônico de notícia quente.
Em maio de 2020 Alarido encerrou se perguntando se tinha conseguido ouvir o que de fato interessava no pandemônio. Agora a tarefa em 2021 é tentar dizer aquilo que importa.
Hoje, 1 de abril, acho que é #DitaduraNuncaMais #CelebrarNunca #RepudiarSempre