Rio de Janeiro, 31 de Março de 2021.
Pai,
Quando houve o Golpe Militar de 1964, eu nem tinha nascido ainda, mas cresci durante a ditadura.
Não entendia o que estava acontecendo, mas minha infância foi no meio desta confusão!
Ia passear escondido com o meu tio Gildásio, que pedia a volta da democracia, e mais tarde visitá-lo na prisão, pois não podia ser a favor da democracia naquela época.
Meu programa de fim de semana com a minha mãe era visitar ele no presídio de Bangu.
Cheguei a visitar também minha tia Gilseone, presa pelo mesmo motivo.
Minha outra tia, a Gilse, também foi presa, e você e a minha mãe cuidaram escondidos da minha prima Juliana, porque os militares queriam pegar e torturar ela, com menos de um ano de idade, na frente da Gilse. Quando foi solta, foi pro Nordeste e achava estranho ter que chamar ela pelo nome falso, Cecília, quando fomos visita-la!
Você tinha que ficar atento pra não ser preso, pois eles não gostavam de suas charges e eram doidos pra te pegar também.
E ainda tinha o seu irmão, o Betinho!
Desconhecido na época, que ficou famoso por ser o irmão do Henfil!
Tio que só conheci quando veio a anistia.
Os três irmãos da minha mãe foram muito torturados. Já o seu irmão, teve mais sorte e conseguiu fugir antes de ser preso.
Hoje, o genocida do presidente anda flertando com um novo golpe.
Nenhuma novidade!
Ele sempre disse que esse era o plano dele quando chegasse ao poder.
Disse que tinha que matar uns 30 mil, mas já matou mais de 300 mil!
Conseguiu aliança com o vírus pra fazer o trabalho sujo dele.
E ele só teve que recusar as ofertas de vacina pra isso!
Continuamos atentos aqui para que não venha um novo 64.
Um beijo do seu filho,
Ivan
Cartas do Pai: Foi Golpe. Foi Ditadura!
Nas Cartas do Pai de hoje, Ivan Cosenza revira o baú das memórias de infância, com sua família, durante os Anos de Chumbo.
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OPINIÃO
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