Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que o auxílio emergencial para pessoas carentes seria retomado. A nova rodada da ajuda, fundamental diante do recrudescimento da pandemia, voltaria a ser paga em abril.
Diversos balões de ensaio passaram, então, a ser lançados, ameaçando dar com uma mão e tirar com outra. Alguns deles condicionaram a iniciativa a cortes nas áreas sociais. Afinal, foi anunciada que a Medida Provisória autorizando o gasto seria assinada nesta quinta-feira. As parcelas, que poderiam chegar a quatro, ficariam entre R$ 175 e R$ 375. Muito longe, portanto, dos R$ 600 - valor da ajuda anteriormente.
O discurso dos representantes do governo é sempre o mesmo: é preciso evitar o descontrole das contas públicas. Daí os valores limitados e o número pequeno de parcelas.
No entanto, é fácil perceber que Bolsonaro e seu governo estão longe de ter zelo pelos recursos públicos.
Um exemplo disso veio nesta mesma semana: foi aprovada há poucos dias a isenção da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para igrejas e templos. Juntamente com a isenção, foi aprovado o perdão de R$ 1,4 bilhão devido por igrejas e templos.
Alguém pode dizer que Bolsonaro vetou o presente às igrejas e que o veto foi derrubado pelo Congresso.
Engodo.
É verdade que Bolsonaro vetou a medida. Mas o fez estimulando a derrubada do próprio veto, de olho no voto evangélico e no apoio das religiões de negócios. "Fosse deputado ou senador, votaria pela derrubada desse meu veto", afirmou.
Não deu outra. A base governista, estimulada pelo presidente, derrubou o veto: 439 deputados e 73 senadores isentaram as organizações religiosas da CSLL e das multas pelo não pagamento do tributo. Com isso, foi para o ralo mais de R$ 1,4 bilhão.
No Brasil, embora haja separação entre Estado e Igreja, na prática o Estado vai além de garantir a diversidade de culto - fundamental numa democracia. E concede privilégios a instituições religiosas. Várias delas, por seu lado, ajudam a compor a base política de Bolsonaro, de olho na reeleição.
A próspera "coleta" de certos templos, agora isentos da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e anistiados das dívidas desses tributos, é crescente. Há chefes religiosos que induzem pessoas humildes a dar até o que não têm. E ostentam luxo e riqueza.
É mais um escândalo neste país tão desigual, onde a fé sincera de pessoas simples e sofridas é tantas vezes explorada.
Suponho que Deus nada tenha a ver com isso.
Há quem use seu nome em vão…
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.