Mais uma vez a gestão atual mostra a quem ela serve. Ao mercado e somente ele. O MPT-PR através de sua procuradora chefe Margaret Matos de Carvalho e o procurador Fabrício Gonçalves de Oliveira e o MPF-PR através da procuradora Indira Bolsoni Pinheiro, diante da crise hospitalar que vivemos por conta da pandemia requisitaram à Petrobrás no dia 15/03/2021 que:
“ No prazo de 3 (três) dias INFORME:
a) A possibilidade de REATIVAÇÃO IMEDIATA da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados – FAFEN-PR com o objetivo de produzir oxigênio hospitalar/medicinal;
b) O tempo e o custo para a adequação dos equipamentos da Fafen-PR, para a produção de oxigênio medicinal/hospitalar, com a URGÊNCIA que a situação requer;
c) A possibilidade de readmissão imediata dos ex-empregados da FAFEN-PR, tantos quantos se fizerem necessários para a produção máxima diária de oxigênio hospitalar/medicinal;
d) A identificação da capacidade máxima diária de produção de oxigênio hospitalar/medicinal, após a adequação dos equipamentos;
e) Outras informações que julgar convenientes.”
Na terça-feira (16/03/2021), chegamos a 282.217 mortos, na quarta-feira (17/03) batemos o recorde de 3.149 mortes e especialistas já projetam 4 mil mortes diárias no Brasil. Enquanto isso a Petrobrás responde pela imprensa a esta calamidade:
A Petrobrás “descartou” o uso da FAFEN-PR para toda e qualquer atividade, não só oxigênio hospitalar. A unidade nunca produziu oxigênio hospitalar porque nunca precisamos tanto dele como agora. Nunca tivemos uma pandemia global desta magnitude e alcance. Nunca uma resposta foi tão fria e insensível como esta.
“Por Denise Luna
Rio, 16/03/2021 - A Petrobras descartou o uso da Araucária Nitrogenados S/A (Ansa/Fafen-PR) para produção de oxigênio no Paraná, como solicitado à Justiça por sindicatos de petroleiros. Nesta terça-feira, os Ministérios Públicos Federal e do Trabalho do Paraná enviaram ofício à estatal questionado quais seriam as ações necessárias para produzir oxigênio hospitalar na unidade.
A estatal afirmou ao Broadcast que "prestará os devidos esclarecimentos aos órgãos", mas que a Ansa encontra-se hibernada desde 2020 e jamais produziu oxigênio hospitalar em toda a sua existência.
"Além disso, não existe estrutura operacional para produção, estocagem e transporte de oxigênio medicinal na planta da Ansa, porque se tratava de uma indústria de produtos petroquímicos, com composição diferente do oxigênio medicinal utilizado em unidades hospitalares", informou.
Segundo a Petrobras, a composição físico-química, a pressão e a temperatura do gás gerado no processo produtivo da Ansa não guardam relação com as especificações do oxigênio medicinal.
A estatal ressalta que segue apoiando a sociedade e os governos locais no combate à pandemia de covid-19 por meio de doações de testes, combustíveis, materiais de higiene e, recentemente, de cilindros de oxigênio.”
A Petrobrás “descartou” o uso da FAFEN-PR para toda e qualquer atividade, não só oxigênio hospitalar. A unidade nunca produziu oxigênio hospitalar porque nunca precisamos tanto dele como agora. Nunca tivemos uma pandemia global desta magnitude e alcance. Nunca uma resposta foi tão fria e insensível como esta.
A Petrobrás mente quando diz que não pode produzir oxigênio hospitalar. Diversos engenheiros e operadores daquela unidade sabem disso e reforçam o pedido do MPT-PR e MPF-PR. O que basta é vontade de fazer isso acontecer. A Petrobrás tem engenharia, mão de obra especializada e uma unidade pronta para produzir oxigênio hospitalar e salvar vidas.
O desdém com as mortes e a iniquidade com o sofrimento dos internados que precisam de oxigênio ainda são reforçados com o final de sua resposta, onde fala sobre doações apenas. O que a sociedade quer é uma Petrobrás que sirva como ferramenta de desenvolvimento do país. Não quer uma Petrobrás que faz acordos milionários com acionistas dos EUA, que só se preocupa com o mercado, que extrai petróleo no Brasil, refina no Brasil, paga em reais seus trabalhadores e cobra da população combustíveis e gás de cozinha com preços internacionais e baseados em dólar.
A Petrobrás e seus gestores têm a chance de mostrar ao país e ao mundo o significado de o que é ser uma empresa cidadã e responsável. Se neste momento ela se negar a atender aos pedidos do MPT-PR e MPF-PR, não existe mais razão dela existir. De nada adianta ir ao pré-sal retirar óleo se na superfície não pode salvar vidas.
*Gerson Castellano é Diretor de Relações Internacionais e Setor Privado da FUP