Vacinação, ajuda emergencial e isolamento físico – Por Chico Alencar

Mais do que nunca, é preciso que as oposições democráticas não percam o eixo central de sua atuação: vacinação em massa, aprovação de um auxílio emergencial consistente até que tenha fim a pandemia

Foto: Câmara dos Deputados
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Não é exagero dizer-se que, nesta semana, a conjuntura mudou. Primeiro veio a decisão do ministro Edson Fachin, do STF, anulando as condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato, na segunda-feira. No dia seguinte, teve início o julgamento, pelo Supremo, dos procedimentos do então juiz Sérgio Moro na condução da Operação Lava Jato, com direito a um voto detalhado e muito fundamentado do ministro Gilmar Mendes. E na quarta, o discurso – nutrido de carisma e de história vivida, desde as lutas contra a ditadura – de Lula. Que, assim, voltou em grande estilo à cena política.

Some-se a isso, pelo negativo, o agravamento da pandemia, tratada como “gripezinha” até então pelo clã Bolsonaro. O Brasil já é o epicentro mundial da Covid-19. O nosso país já virou uma ameaça sanitária global. Somos responsáveis por 12% das mortes em todo o mundo.

Quanto tempo e quantas vidas perdemos com a sabotagem à vacinação promovida por Bolsonaro? Quanto tempo e quantas vidas perdemos com o negacionismo criminoso promovido por Bolsonaro?

Não dá mais para o presidente, seus filhos e seu clã tratarem os 2.349 mortos da quarta-feira e os 270 mil mortos desde o início da pandemia como "mimimi". Não estamos diante apenas de uma tragédia. Está em curso a destruição do país.

Precisamos imediatamente de um lockdown nacional para barrar a transmissão da Covid-19. Precisamos de isolamento total e radical para salvar vidas. Precisamos de testagem e vacinação em massa já.

Certamente esse quadro dramático contribuiu para uma mudança no comportamento de Bolsonaro e de seu entorno. O presidente passou a usar máscara, a guardar algum distanciamento e – surpresa! – proclamar que está empenhado na compra de vacinas. Certos cuidados, até então apontados como coisas de “maricas”, começaram a ser tomados. Resta saber por quanto tempo, mas o fato é que a pregação anterior e o negacionismo saíram – pelo menos momentaneamente – de cena. O ministro Pazuello – aquele que dizia apenas obedecer ao presidente – baixou o tom e passou a bajular a China.

O senador Não Sei Quantos Zeros postou foto do pai nas redes sociais com os dizeres "Nossa arma é a vacina". Zé Simão, jornalista de humor da Folha de S. Paulo, não perdoou: "Só falta Flávio Bolsonaro transformar sua mansão em posto de vacinação", afirmou, sem piedade.

É verdade que os demais Zeros de Jair continuam na toada agressiva e desbocada que caracteriza a família. Um deles, vereador no Rio, chamou seus pares que denunciam a política do pai como genocida de "canalhas". Outro, deputado federal, confirmou que a elegância e a boa educação não são o forte da família: "Enfiem a máscara no rabo", disse.

Como na fábula do sapo e do escorpião, pode ser que os Bolsonaros logo voltem ao estilo antigo, por este ser a sua natureza. Mas o fato é que começa a se ver uma mudança de tom no Palácio do Planalto.

Mais do que nunca, é preciso que as oposições democráticas não percam o eixo central de sua atuação: vacinação em massa, aprovação de um auxílio emergencial consistente até que tenha fim a pandemia e respeito às recomendações de isolamento físico.

A unidade em torno a esses três eixos é essencial.

Permitir que questões relacionadas com as candidaturas a presidente em 2022 prejudiquem essa unidade é um desserviço à democracia, ao povo brasileiro e à vida.


**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.