Era noite num país entristecido. As pessoas andavam de cabeça baixa, com olhos opacos e sem sorrisos a enfeitar a paisagem. Não havia o que comemorar. A esperança desaparecia a cada momento, a cada fala descabida de um presidente perverso, a cada novo anúncio de que nada seria feito. O país respirava (e ainda respira) morte. Ou pior: a morte está em não respirar mais.
Era a noite mais densa dos novos tempos depois dos anos em que o céu teve cor de chumbo. O céu e as ruas. Como querem de novo os que ainda ocupam o poder. O chumbo é a cor preferida deles, mais ainda quando encontra o corpo preto para jorrar o sangue vermelho. Aliás, vermelho que eles sonham em banir do país.
Nessa noite tenebrosa, a apatia e a falta de esperança saltavam aos olhos de quem quisesse ver, mas nem forças para ver, tínhamos. A velha equilibrista, na corda bamba de sombrinha, parecia dar seus últimos passos rumo ao tombo mortal no circo insano. Era normal conversar com as pessoas e sentir um peso imenso ao falar de futuro. “- Que futuro?”, perguntavam. “- Ainda restará Brasil? Ainda teremos um país para nós, nossos filhos e netos?” Tudo parecia perdido.
Até mesmo os profetas da esperança pareciam guardar suas palavras na garganta agora seca de tanta tristeza. As lágrimas derramadas dia a dia pelos amigos que se foram pareciam secar a alma e os sonhos, que dessa vez pareciam envelhecer, contrariando a canção. Caminhar e cantar já pareciam desejos abandonados ao léu. Não eram só as pessoas que morriam... Era um país inteiro morrendo. A sombra da noite parecia densa como o anjo da morte da narrativa bíblica...
Mas, de repente, contrariando as previsões dos mais otimistas astrônomos, astrólogos ou mesmo apaixonados que esperam o seu espocar no céu, uma estrela que muitos tinham como apagada (porque fizeram de tudo para apagá-la) brilhou. E brilhou forte! E como na Valsinha de Chico e Vinícius,
“a vizinhança toda despertou,
e foi tanta felicidade
que toda cidade se iluminou...”
A estrela brilhou como nunca e os sorrisos amarelados ganharam cor, os olhos refletiram seu brilho e começaram a enxergar futuros, os sonhos se descobriram novamente jovens, “com um tesão de 20 anos”, os beijos e abraços vieram, alguns ainda de forma virtual, mas na esperança breve do encontro tão esperado, o povo abatido e cabisbaixo ergueu novamente a cabeça e estufou o peito... A esperança recobrou seu passo, a sombrinha se abriu faceira e lhe encheu de equilíbrio e força.
A corda ainda é bamba. O país ainda respira morte. O perverso ainda governa. Mas o nosso céu não é mais o mesmo!!! Não mais o tenebroso e pesado céu de chumbo!!! Uma estrela brilha forte... E ela traz de volta um país, um povo, uma nação disposta a lutar e acreditar em dias melhores...
Sim... Lá vamos nós, renovados... Vermos o amor vencer o ódio, a esperança vencer o medo (mais uma vez) e sorrirmos num país que voltará a viver sem medo de ser feliz!
Tudo isso porque uma estrela brilhou novamente...
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.