Com PEC Emergencial e Lula, mercado financeiro avalia retomar apoio a Bolsonaro

Diante de ameaça concreta a seus planos de reeleição com a elegibilidade de Lula, Bolsonaro busca satisfazer a sanha dos bancos com a PEC emergencial e implorando por vacinas à comunista China, a quem caberá salvar - ou não - a relação do presidente com o sistema financeiro

Bolsonaro e Paulo Guedes, em reunião com agentes do sistema financeiro no Fórum Econômico Mundial (Arquivo/PR)
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Após o pânico provocado pelos grupos de comunicação liberais com a decisão de Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular as condenações e tornar o ex-presidente Lula elegível para 2022, agentes do mercado financeiro avaliam retomar apoio à reeleição de Jair Bolsonaro, mesmo diante da insatisfação com o ritmo da agenda neoliberal prometida por Paulo Guedes, ministro da Economia.

Pela Folha de S.Paulo, "algumas das principais instituições do mercado financeiro" mandaram recado de que preferem o protofacismo de Bolsonaro com a defesa da política liberal à possibilidade do retorno de Lula, que pode aprofundar as políticas sociais e deixar de privilegiar o mercado e banqueiros, que têm recebido benesses desde o golpe parlamentar de 2016, com a ascenção de Michel Temer à presidência.

Banqueiros e economistas pagos pelos sistema financeiro ouvidos pelo jornal classificam como "frustrante" a decisão de Fachin, que teria jogado um balde de água fria no previsto rompimento com Bolsonaro. O medo agora é que as chances de um candidato mais ligado ao setor - como João Doria (PSDB) ou Luciano Huck, e até Sergio Moro - foram praticamente anuladas com a volta de Lula ao cenário político.

PEC
Considerada uma migalha perto dos planos de privatizações, apropriação de fundos de pensão e das reformas, a Proposta de Emenda à Constituição 186/19, a PEC Emergencial, aprovada na madrugada desta quarta-feira (10) na Câmara, aplacou a sanha do mercado financeiro.

A pressão do governo sobre o Congresso para aprovar a medida foi vista como um recado aos bancos, que garantiram a drenagem de dinheiro público com a desvinculação dos fundos para pagamento de juros de dívidas, enquanto Bolsonaro lança um engodo à base eleitoral com o pífio auxílio emergencial, de R$ 175 a R$ 375 pelos próximos quatro meses, limitado a R$ 44 bilhões.

Outra sinalização ao mercado foi a reunião do próprio presidente com a Pfizer, quando Bolsonaro, irreconhecível, implorou pela venda de vacinas ao Brasil.

Guedes, como bom garoto de recado do sistema financeiro, tem alertado sistematicamente Bolsonaro de que sem a vacina, a atividade econômica continuará parada.

E agora, diante de uma ameaça concreta a seus planos de reeleição, Bolsonaro mostra ter entendido o recado. No entanto, pode ter sido tarde demais.

O Ministério da Saúde já admite o risco de ter a vacinação parada no país, em meio ao maior pico da pandemia, por falta de doses - o que fez o governo escrever nova carta implorando pelo imunizante, desta vez endereçada à comunista China, a quem caberá salvar a relação de Bolsonaro com o mercado financeiro.