Como pedagoga, mãe e professora formadora de profissionais da educação, tenho ficado um pouco assustada com a virulência de certas reações individuais à posição contrária de reabertura das escolas.
Há, sem dúvida, um componente do interesse econômico no grande conglomerado empresarial das escolas privadas.
Mas, há também, uma pressão forte e emocional - sobretudo da classe média e alta- pela volta das aulas presenciais, relativizando os riscos e custos sociais desta medida.
A primeira ordem de argumentos é a necessidade de pais e mães trabalharem e, portanto, a urgência de um "lugar" para deixar os filhos.
A segunda, é a necessidade psicológica e cognitiva dos "alunos(as)" na relação com a escola.
A terceira - e mais estapafúrdia - é que crianças não se contagiam e não contaminam.
Sobre a primeira ordem de argumento, diria que quem mais tem direito de reivindicá-la são as classes populares - estas sim, sem opções de home-office.
Mas, mesmo nestas condições, parece-me que o caminho é lutar pela possibilidade de sobreviver em casa - por isto, a defesa do Auxílio Emergencial de pelo menos 600 reais - e não a de expor os filhos e filhas ao contágio.
Sobre a segunda ordem, a dos efeitos cognitivos e emocionais neste período de isolamento social para crianças e adolescentes, é preciso reivindicar medidas de apoio dos sistemas educacionais. O que não necessariamente significa o retorno presencial.
É importante também repensar duas questões:
1 - A frustração e a limitação fazem parte da experiência humana. Países que convivem com a guerra e as catástrofes naturais lidam com isto, permanentemente.
2. O papel da família na sociedade neoliberal, focado mais na produtividade do que na convivência humana, também, precisa ser revisto.
Sobre a terceira ordem, de notícias de fake news, recuso-me a comentar.
Colo apenas uma notícia de tragédia que refuta esta imbecilidade generalizada, publicada aqui, pela GaúchaZH.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.