O atrito gera movimento e o anúncio de que Fernando Haddad é o nome do PT à disposição do país – e, consequentemente, dos progressistas para a discussão de uma grande frente democrática – movimentou o debate sobre a sucessão de Bolsonaro.
Isso é extremamente positivo. A reação de Guilherme Boulos – que disse que não é hora de apresentar nomes, e sim ideais – nos dá a oportunidade de divulgar um conjunto delas que apresentamos em setembro de 2020, com o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil, que considero um dos mais avançados documentos já elaborados pelo partido. Leia aqui.
Além de medidas urgentes para o enfrentamento da pandemia, ali estão, o que se pode chamar da tão pedida, por alguns, “autocrítica”, uma vez que faz balanço dos nossos governos e reconhece a necessidade de avançar muito, por exemplo, na defesa de um modelo tributário progressivo, direto e que faça justiça.
O plano não é eleitoral ou de governo. Não pensa em 2022, mas sim em 2021. Haddad será o nosso nome para divulgá-lo e defendê-lo, mas não acharíamos ruim se Bolsonaro copiasse a nossa proposta de criar cinco milhões de postos de trabalho, com contratação por seis meses, de pessoas que estejam desempregadas e não recebendo o seguro-desemprego, ou que retomasse obras públicas, a fim de garantir trabalho, infraestrutura e reativar a economia.
Da mesma maneira, não fazemos questão da paternidade de projetos como o Fundo Nacional de Combate ao Racismo e de outras medidas antirracistas, além de garantia de políticas públicas para as demais populações historicamente excluídas no Brasil, como as mulheres, os homossexuais e as populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas.
O PT está muito mais avançado do que muitos setores pensam em um debate fundamental, a transição ecológica para uma economia sustentável e de baixo carbono. Está no programa do PT a redução da emissão dos gases de efeito estufa e a mudança da matriz energética, além do investimento na geração de energias renováveis: solar, eólica e de biomassa.
Não se pode ter compromisso com o anacronismo. A preocupação com a mobilidade urbana, com a renda básica, com a agroecologia e com comida saudável para todos e todas, além de pensarmos uma nova indústria para o Brasil – uma indústria 4.0 – deve ser preocupação de todos os partidos de esquerda. E os maiores e mais antigos precisam se atualizar.
O PT, infelizmente, não conta com uma justa cobertura da grande imprensa e, não por acaso, suas ideias para o país, o seu projeto e mensagem, não chegam para a população e até mesmo para parcelas da esquerda com quem lutamos juntos diariamente.
Talvez por isso Boulos tenha estranhado ouvir o nome de Haddad como possível presidenciável, embora o próprio Boulos tenha sido praticamente lançado pelo presidente do seu partido logo depois que as últimas eleições para a Prefeitura de São Paulo terminaram.
Os nomes já postos não impedem que haja uma frente de esquerda e um candidato único no ano que vem. O que não se pode questionar é a legitimidade do PT em apresentar suas ideias e um possível nome.
Para quem prioriza ideias aos nomes, nomes não assustam. São sempre bem-vindos. Haddad será o nosso camisa 10, assim como Boulos é o 10 do PSOl, Ciro é o 10 do PDT e Flávio Dino é o 10 do PCdoB.
Em 1970, não eram quatro camisas 10 que se adequaram em campo para jogarem juntos e conquistarem o Tri Mundial pro Brasil. Eram cinco! Jairzinho, Gérson, Tostão, Rivellino e... Pelé! Quem sabe, com a devolução dos direitos políticos de Lula, o Brasil possa contar com mais um camisa 10 para 2022.