Há alguns meses, recebi por e-mail um pedido de inclusão do meu nome num abaixo-assinado que não me lembro pra que, e concordei.
Aí apareceu uma pergunta, se eu topava colaborar com R$ 20 para tocar o negócio em frente. Estranhei e não topei. Mas no dia seguinte já apareceu um outro pedido e nos dias que se seguiram... Haja abaixo-assinados!
Pensei: isso tá virando nota de repúdio. Explico: cada vez que Bolsonaro, algum ministro dele, filhos, colaboradores e seguidores cometiam alguma coisa no ano passado e no anterior, lá vinha uma “nota de repúdio”, seja de partidos da oposição, de juristas, de autoridades de todos os tipos, acho que até de ministros do STF. “O que adianta isso?”, eu me perguntava. Parecia um jeito de simplesmente lavar as mãos: por maior que seja o descalabro, ofendidos se limitavam a emitir essa coisa inócua e não tomar providência nenhuma. Ninguém leva a sério.
Então esse excesso de abaixo-assinados, provavelmente com os nomes quase sempre das mesmas pessoas, deve chegar ao seu destino com a força de uma dessas notas de repúdio: providência, nenhuma! Talvez até uma gargalhada de quem recebeu o abaixo-assinado.
Se eu me dedicasse a assinar os pedidos recebidos, passaria um bom tempo fazendo isso, diariamente. E sobre assuntos dos mais variados, desde coisas que julgo importantes até questões muito particulares de alguma pessoa.
Vi que uma organização que se encarregava de espalhar esses abaixo-assinados chama-se Avaaz, e procurei no Google para ver o que é. E nele consta que foi cofundada pela Res Publica, uma “comunidade de profissionais do setor público dedicada a promover a boa governança, virtudes cívicas e a democracia deliberativa”, e pela MoveOn.org, um grupo de advocacia progressista sem fins lucrativos dos Estados Unidos, de ativismo online.
A função da Avaaz seria incentivar pessoas a criarem suas próprias campanhas usando as ferramentas de abaixo-assinado online, através da internet.
E deu certo... Como fazem isso! Parece que se eu tiver raiva do vizinho, posso criar um abaixo-assinado via Avaaz, com signatários de um monte de países, pedindo que o vizinho se mude para longe. E, não sei como, esse abaixo-assinado chegaria ao vizinho incômodo. Mas será que teria algum efeito?
Há pouco mais de um mês, recebi um pedido de tascar meu nome no abaixo-assinado de uma pessoa indignada com a corrida de galgos não sei em que país. Já não vinha assinando mais nada, mas pensei: “Que trolha é essa?”. O que eu tenho a ver com a corrida de galgos não sei onde?
E os abaixo-assinados continuaram chegando aos montes, sem minha anuência... A Avaaz é insistente, pensei.
Aí, há uns dias, um dos abaixo-assinados que recebi e mandei pra lixeira junto com todos os outros era pedindo a expulsão de não sei quem do BBB. Ora! Se eu soubesse de quem era essa iniciativa escreveria diretamente para ele: “Vá plantar batata! Não encha o saco!”
Nunca assisti a esse programa, que acho uma babaquice, mas aqui faço um intervalo para falar dele. Há uns anos, de vez em quando ligava a TV em programas bestas de debates sem base sobre os assuntos mais diversos, para ver como andava a qualidade não só dos programas, mas dos seus participantes, e sempre tinha alguém dando sua abalizada opinião sobre os mais diversos assuntos, que tinha como cacife para isso ser “ex-BBB”.
Vamos debater o programa nuclear da Coreia do Norte! Quem deve dar sua valiosa opinião na TV? Um físico nuclear? Um diplomata? Ah, podia até ter, mas o que não podia faltar é um(a) ex-BBB.
A crise hídrica e a plantação de quiabo no Vale do Jequitinhonha? Ah, tá aí um assunto para um(a) ex-BBB!
A navegação submarina no rio Amazonas? Ah... Um(a) ex-BBB tem muito a dizer sobre isso.
Enfim... Haja saco! Para o BBB, para as pessoas que o levam a sério e também para os abaixo-assinados da Avaaz.
Aliás, alguém me enviou uma mensagem dizendo que a Avaaz foi criada de fato pela CIA e que pelos abaixo-assinados que respaldávamos ela ficava sabendo do perfil ideológico da gente. Outra pessoa disse que foi criada pelo Mossad, o serviço secreto de Israel. Aí fucei mais no Google e vi que um político conservador do Canadá disse que é uma “obscura organização estrangeira” ligada ao bilionário George Soros.
Enfim, seja o que for, tô fora. Sei que não adianta pedir que não me mandem mais pedidos para assinar esses troços, porque eles vão continuar chegando. Mas aviso: nem leio.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.