Os últimos acontecimentos envolvendo militares e a matilha miliciana bolsonarista anunciam que uma ruptura institucional está logo ali.
Duas "crises" que pulsam no coração do atual "governo" alimentam minha impressão de que um regime de exceção nunca esteve tão perto como agora. Digo isso pelo descaramento com que são assumidas e pela incapacidade total do restante da sociedade e dos poderes constituídos de tomarem posição frente ao descalabro.
Os gastos ultrajantes e a vida nababesca levada pelo generalato verde-oliva, com seus gordos salários, paladar refinadíssimo e estatuto de casta superior que vieram à tona nas últimas semanas (sem provocar qualquer constrangimento à caserna) indicam que daqui pra frente as coisas vão ser do jeito deles.
As declarações do general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, num livro lançado agora sobre o episódio em que ameaçou o STF na decisão sobre o habeas corpus de Lula, em 2018, são uma vergonha absoluta. O militar conta que a nota que emparedou o Supremo foi redigida por vários oficiais generais do Alto Comando das Forças Armadas, incluindo gente que hoje habita a gestão circense de Jair Bolsonaro.
Já no caso da prisão do deputado federal Daniel Silveira, fiel escudeiro da doentia família presidencial e símbolo máximo da irracionalidade do Bolsonarismo, a inacreditável reação das hostes fascistas nas redes sociais e no mundo real, ameaçando jornalistas e espancando manifestantes, sem serem incomodados pelas autoridades, mostram que o modus operandi criminoso está oficializado.
Silveira foi enquadrado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes por ameaçar abertamente o sistema político brasileiro e por propor uma surra de gato morto nos integrantes da mais alta corte da República.
Ele e as frações delinquentes do submundo psiquiátrico que sustentam o presidente acharam um absurdo. Onde já se viu prender alguém só porque saiu ameaçando com surras, torturas e linchamentos os magistrados da Suprema Corte?
Pois é... A narrativa é essa. Todos eles podem ameaçar, bater ou matar quem quiserem. É liberdade de expressão. É opinião. Pedir, de dentro do parlamento, a instauração de uma ditadura financiadora da tortura e da morte de adversários é natural e deve ser respeitado.
O que assusta não é só essa maluquice, mas sim o fato de um caso como esse, protagonizado por um insignificante deputado do calabouço da Câmara, criar dificuldades para os Poderes do Estado, gerando paralisia no mundo político brasileiro e um excesso de "dedos" de todos os lados. Parece que ninguém pode dar nome à coisa.
Some a isso as reiteradas tentativas por parte de Bolsonaro de liberar a venda de armas de fogo no país, concedendo registros de "atirador" e "caçador" a torto e a direito, formando um verdadeiro exército paralelo.
Desavergonhados, militares estufados por bacalhau e uísque 12 anos debocham do que restou do Brasil, enquanto as milícias bolsonaristas brindam a farra da liberação de armas. Até 2022, uma ditadura parece inevitável.
Esse sentimento se fortalece quando olhamos ao redor e percebemos que não há a quem recorrer.
A tropa está assanhada, no cio, comendo do bom e do melhor e decidindo o futuro do Brasil pelo Twitter, ao passo que a juventude hitlerista tropical consegue naturalizar a barbárie e até mesmo abrir um debate sobre seu direito democrático de eliminar opositores e lutar por ditadura.
E há quem não pare de repetir, diariamente, que as instituições estão funcionando.
Que bom... Isso me acalma. Não há com o que se preocupar.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.