Caso se tenha como referência o compromisso com a democracia, os citados no recém-lançado livro "General Villas-Boas – Conversa com o comandante" não saem com uma boa imagem.
Villas-Boas, o protagonista principal do livro, porque confessa que se movimentou para o Supremo Tribunal Federal não conceder o habeas corpus solicitado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então preso.
Decididamente, este não é papel de um comandante militar no regime democrático.
Seus colegas do Alto Comando do Exército também não se saem bem. Segundo conta o próprio Villas-Boas, participaram da mesma articulação e da redação da mensagem usada para intimidar o STF.
Este tampouco é papel de chefes militares numa democracia.
O ministro Edson Fachin, do STF, que na semana passada criticou aquelas pressões, não explica porque somente agora, três anos depois, protestou contra elas e contra o emparedamento da mais alta corte do Judiciário.
Os demais ministros da Suprema Corte também ficam devendo. Por que, com a honrosa exceção de Celso de Mello, até agora mantiveram-se calados, num silêncio injustificável?
Por fim, o próprio STF deve uma satisfação ao país por ter aceitado a tutela do Exército naquele período.
Sim, não há exagero nesta afirmação.
É preciso lembrar que o presidente do Supremo, o ministro Dias Toffoli, nomeou como seu "assessor especial" um general indicado pelos militares, que avalizava cada passo dado por aquela Corte.
Que caráter tinha essa "assessoria" nunca ficou claro para a sociedade, dado que o general não tinha formação jurídica.
Tudo indica que ele era mesmo uma espécie de supervisor dos trabalhos do STF, estipulando os limites para a sua atuação e dizendo até onde o tribunal poderia ir.
Enfim, este episódio todo não engrandece a democracia.
Ninguém, absolutamente ninguém, com a exceção do já citado Celso de Mello, fica bem na fita.
Que o livro do general sirva, pelo menos, para que se possa refletir sobre o papel dos militares num regime democrático.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.