A Academia Brasileira de Letras tem um novo presidente eleito: o jornalista Merval Pereira. É, aquele mesmo, que faz comentários políticos óbvios na GloboNews e que só se arrisca a sair das amenidades redundantes quando estrebucha seu ódio visceral e de contornos psicanalíticos a Lula e ao PT.
Mas aí você pode perguntar: ter ódio do Lula e do PT de forma doentia é algo impeditivo para se tornar um "imortal" da Academia Brasileira de Letras, ou para chegar à presidência da instituição?
Não, absolutamente. Mas quando a única coisa que você fez na vida que lhe trouxe "reconhecimento" foi isso, qualquer mérito que possa ser atribuído ao figurão que será o mandachuva do Palácio Petit Trianon escorre escada abaixo.
Merval é um poço de antipetismo. Não importa que tenha ocupado posições destacadas na imprensa hegemônica nacional, como no Jornal do Brasil, na Veja e em O Globo. Sua cara tornou-se familiar apenas após suas investidas ensandecidas contra os governos Lula e Dilma, e por sua preciosíssima obra composta por dois livros cujos títulos falam por si: "O Lulismo no Poder" e "Mensalão, o dia a dia do maior julgamento da história da política do Brasil".
No primeiro, publicado em 2010, engole a seco a estrondosa popularidade do ex-presidente ao deixar o cargo, fala de sua liderança incontestável no plano internacional e de sua ascendência sobre as classes mais baixas e a nova classe média, sempre imbuído de uma dor de cotovelo indisfarçável.
Já no segundo, o rottweiler dos Marinho aproveita para se deleitar com as cacetadas explícitas reunidas a partir de sua "vasta experiência" na cobertura dos bastidores do poder. Só faltava urrar com cada tão desejada pedra arremessada no partido e no líder político que mais odeia. Um verdadeiro gozo de prazer ao digitar "Mensalão".
Nos anos seguintes às maravilhosas publicações e à sua eleição para a cadeira de número 31, cujo patrono é Pedro Luís e que herdara de Moacyr Scliar, Merval dedicou-se ao seu lavajatismo inveterado, à demonização contínua de Lula, do PT, da esquerda e de qualquer coisa que se inclinasse para o campo popular. Venerou Sergio Moro, fez a egípcia com Jair Bolsonaro e atualmente solta os resquícios de suas últimas flatulências anticomunistas na tentativa de equiparar o ex-presidente que demoniza com o atual psicopata que ocupa o Planalto.
Se a ABL, pelo conjunto da obra e por seu trajeto, sobretudo nas últimas décadas ao manter sua obsolescência e fachada aristocrática do poder branco arcaico, resolveu elevar essa figura pífia à condição de representante máximo do colegiado, é chegada a hora então de ouvir o tilintar do martelo no último prego que selará o caixão do panteão dos velhos imortais das Letras brasileiras.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.