Uma das boas surpresas das plataformas digitais das últimas semanas é o álbum “Eu vou fazer qualquer negócio pra sair do Ócio”, do cantor e compositor santista Conrado Pouza. Com capa elegante e produção impecável de Bruno De La Rosa, o disco traz ótimas canções. E todas muito bem interpretadas pelo autor.
Conrado é bastante conhecido das noites da Baixada Santista, onde se apresenta regularmente. Com este álbum, ele faz sua transição para o disco de maneira correta, sem estardalhaço e, ao mesmo tempo, se distanciando do repertório do dia a dia de músico da noite.
O disco traz canções de vários autores, alguns deles amigos próximos do autor e outros mais conhecidos do público. Entre essas está a linda “Menina amanhã de manhã, de Perna Froes e Tom Zé, lançada na década de 70 como uma espécie de hino de esperança contra a ditadura militar.
A versão de Pouza, além de ser um achado para os dias de hoje, ficou com jeito de acalanto, com interpretação delicada e violões dedilhados conduzindo a melodia.
Outra canção conhecida do álbum que merece destaque é a ótima adaptação de Zé Miguel Wisnik para o poema “Mortal Loucura”, de Gregório de Matos, já gravada por Maria Bethânia. Nesta versão, ela é interpretada em parceria com o produtor do álbum Bruno De La Rosa.
Os dois optaram por uma versão um tanto menos dramática e ritmada, com efeitos de violões, percussão e guitarra que nos remetem à canção nordestina da década de 70. Outra das canções conhecidas que ganhou em suavidade e delicadeza é “Magano”, de Carlinhos Brown.
Além delas, Conrado resgatou também “Beira Mar Novo”, canção tradicional do Vale do Jequitinhonha, gravada por vários cantores, entre eles Dércio Marques e Milton Nascimento. Mais uma vez, a opção é por destacar a beleza da canção para além da intenção da folia, ao contrário de outras interpretações.
O álbum “Eu vou fazer qualquer negócio pra sair do Ócio”, no entanto, se destaca também pelas novidades que traz no repertório. A que mais chama a atenção logo de saída é a que indica o nome do disco. “Ócio”, samba no estilo descritivo de Bruno De La Rosa e Tata Alves nos remete à “Construção”, de Chico Buarque e “João do Amor Divino”, de Gonzaguinha.
Conrado usa e abusa das ironias da canção em uma bela interpretação. A gravação se destaca por efeitos sonoros que ainda contam com a voz de Vinícius de Moraes declamando seu poema “Poética”, de 1954.
Outra joia do disco que vale destaque é a linda valsa “Lea”, de Gabi Buarque, cantada em dueto com Jaque da Silva. Bruno de La Rosa ainda contribui com a bela toada “Entre Rios”.
Há muito mais no álbum de estreia de Conrado Pouza e vale descobrir uma por uma, ir, voltar e repetir. “Eu vou fazer qualquer negócio pra sair do Ócio” mostra um intérprete inovador e pronto pra encarar o mundo. Que assim seja.