Hoje é o segundo “dia de finados” da Pandemia que assolou o mundo e devastou o Brasil. Do primeiro para o segundo foram mais de 400 mil mortos. E uma avalanche de absurdos, negociatas, falcatruas e corrupção deslavada do governo Bolsonaro. Sem contar o negacionismo e a campanha para que o povo não usasse máscara, não cumprisse o distanciamento social e duvidasse do efeito das vacinas. Se isso não é suficiente para banir Bolsonaro e seus asseclas do poder, eu não sei mais o que será?
Hoje, junto-me a milhões de brasileiras e brasileiros que choram seus mortos. Parentes, amigos, colegas de trabalho, conhecidos, vizinhos… 400 mil pessoas, com nome e sobrenome, amores de alguém, pais e filhos, mães e filhas, sogros, sogras… 400 mil pessoas que não deveriam ter morrido. Essa, pelo menos, é a conta que fazem das mortes “evitáveis”, caso tivéssemos um ser humano na presidência, o que, infelizmente, não é o caso.
São muitas as mortes que lembro hoje. Não! Não quero chorar… Hoje quero abraçar uma prática de outra cultura, a mexicana, e lembrar dos mortos com festa. Quero beber e brindar à vida dos amigos queridos que foram. Bebo ao Fidélis Paixão, amigo querido de Belém do Pará, precocemente arrancado do nosso meio por conta desse vírus e do verme presidente. Bebo ao Otávio, ao Porto, à Marília, e a tantos e tantas pessoas queridas, de perto e de longe, que hoje me fazem falta. Mas nenhuma delas me faz tanta falta quando o João.
Ah! O João, meu querido amigo ateu, meu companheiro de botecos de quinta categoria, da militância e dos sonhos de um Brasil melhor. O João que sempre cantava “Comentários a respeito de John”, do Belchior nos karaokês de Belo Horizonte. Que sempre lembrarei pela inesquecível “mudança” na letra quando cantava “João, o tempo andou mexendo com a gente, sim…” e vocês cantava “Eeeuuuu, o tempo…”. E a gente ria… e cantava!
João Henrique Marques Oliveira, hoje eu tomarei “uma litrão” por você! Hoje celebrarei sua tão curta vida com o mesmo brinde de sempre: “Ao Lula!”. Hoje quero lembrar do seu riso farto, das suas tiradas magistrais, da irreverência lúcida, da lucidez irreverente, da inesquecível alcunha que você me colocou de “personal perdoator”, só pelo fato de eu ser pastor. Da risada incontrolável ao me dizer “você é o único pastor pobre que conheço. Deve ser honesto…”
Saudades do militante incansável, do amante apaixonado da Sel, do músico sagaz, do chapéu inconfundível (ou da diversidade deles, mas sempre um chapéu na cabeça), da esperança que brotava em seus olhos ao falar de Lula e do ódio que vinha em seguida ao lembrar que somos governados pelo ser mais abjeto que já tivemos em nossa política. Das incontáveis noites que começavam no Maletta e terminavam de manhã, no bar da Cledir, o único aberto a madrugada toda para todo tipo de gente. Prenúncio do céu (que você não acreditava)…
Ah! Meu amigo… como diz a música, “João, o tempo andou mexendo com a gente, sim”… quase um ano depois de sua morte, as coisas só pioraram… Bolsonaro continua na sua incansável missão de destruir o Brasil, sem deixar nada de bom como “herança” ao próximo governo. Mas, como você bem sabe, temos também com o que sonhar: Lula lidera em todas as pesquisas. Sim, o nosso Lula que tantas vezes brindamos. O Lula que tantas vezes defendemos e apoiamos. E saiba, meu amigo, naquele dia, em outubro do ano que vem, apertarei o 13 com os olhos marejados. Por mim, e por você!
O Lula tá livre, porra!!! E a nossa felicidade será uma arma quente contra o fascismo!!!
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.