A petulância dos sabujos que habitam a parlamento brasileiro é de corar as faces da mais indecorosa das criaturas humanas. O mirabolante plano de dar a Jair Bolsonaro um mandato vitalício de senador da República, revelado pelo G1, beira a insanidade e é a prova cabal de que o golpismo das hostes reaciónarias do Brasil não dorme. Nem deixa dormir.
Quando José Saramago deitou tinta no papel e escreveu em seu Memorial do Convento que "ainda ontem morrer um era uma tragédia e hoje é banalidade" certamente ele não imaginava a que ponto poderia chegar a alucinação de quem propõe em lei (absurda) dar anistia ao maior dos carniceiros do século XXI, o senhor da morte que zomba da chacina sanitária que pôs abaixo da terra mais de 600 mil concidadãos.
Jair Bolsonaro quer ser Augusto Pinochet, e digo isso não só porque alinha-se ao desprezo que o déspota chileno tinha pela vida dos outros, mas sobretudo porque o extremista brasileiro já almeja a tranquila impunidade gozada pelo general genocida que se escondeu atrás de um mandato teatral perpétuo para se livrar das garras dos tribunais e seus juízes.
Claro que a imunidade conferida a Pinochet não se manteve por toda a vida e sua detenção em Londres, em 1998, serviu de ponto de partida para a revogação da infame proteção constitucional que lhe fora conferida, em que pese a frustração por não termos visto o bandido fascista, que amava um fardamento com capa a la exército prussiano, ser julgado e levado ao cárcere, como seu homólogo argentino Jorge Rafael Videla.
Nem nos pesadelos mais sufocantes imaginei que subverter a Constituição Federal com uma cláusula ignominiosa que dá anistia vitalícia a um notório psicopata seria possível, ou sequer cogitado.
Prefiro aguardar o passar dos meses para conferir se tamanha desfaçatez será mesmo possível ou se o sonho de Bolsonaro de tornar-se a emulação perfeita de Augusto Pinochet foi só um delírio.