Após a saída de Donald Trump da presidência dos Estados Unidos, a Globo só tem elogios à maior potência capitalista do mundo. Antes, embora idolatrasse o modelo econômico norte-americano, disparava críticas intensas à administração do republicano.
Por outro lado, Bolsonaro (e seu clã), nos últimos anos, vinha se mostrando o maior capacho do governo Trump na América Latina (talvez no planeta). Endeusava o chefe da Casa Branca. Tirava fotos assistindo seus discursos, fazia acordos unilaterais que favoreciam apenas os EUA, além de outras sandices que somente os fãs são capazes de cometer (como colocar a foto do ídolo de perfil nas redes sociais).
Os maiores inimigos no (do) Brasil (Globo x Bolsonaro), que se digladiam num conflito forjado, evidentemente para esconder as lutas de classes, também disputam o monopólio de reconhecimento como o maior fantoche dos EUA. Os dois querem se sentir representados pelos líderes do império. Desejam ver nestes facínoras um pouco de si.
Não me venha com o discurso de que Trump é pior que Joe Biden, ou que o republicano foi menos imperialista que seu sucessor democrata. Os dois representam a mesma coisa, sob ideologias distintas. Trump defende a ideologia tradicional e, Biden, a progressista. Mas ambos são imperialistas.
Foi durante o governo Trump que tivemos o golpe na Bolívia. Foi no governo do mesmo tirano que tivemos as tentativas de golpe na Venezuela que, covardemente, adotou métodos que deixou o povo do país latino-americano passar fome.
Os EUA, sob a liderança de Trump, investiram no fortalecimento do imperialismo na América Latina para impedir o avanço dos chineses na região. Deste modo, o imperialismo continuou, mais frouxo no Oriente, porém com maior intensidade no Ocidente.
Dizer que as políticas identitárias, defendidas pelos democratas, são uma espécie de imperialismo, é simplesmente dissertar sobre o óbvio. Não há a menor dúvida de que os EUA, principalmente através de sua indústria cultural, vêm impondo um imperialismo cultural pós-moderno que sucumbe às tradições locais, e também vêm introduzindo em seu lugar um ideal de liberdade, que na verdade não passa da liberdade de consumir o que quiser, ampliando, assim, o mercado consumidor. Já discuti este aspecto em vários textos.[1]
Porém, a ideologia conservadora que quer reproduzir a moralidade da classe média norte-americana também é imperialista. Trump se tornou o centro gravitacional deste discurso imperialista conservador que interferiu diretamente na eleição de Jair Bolsonaro no Brasil, contribuindo para o projeto imperialista no modelo Trump.
Era um projeto tradicional, que usou o discurso do novo. Era um discurso imperialista que usava o argumento anti-imperialista, reproduzido até mesmo por Bolsonaro, que se intitulava protetor da floresta amazônica da ganância estrangeira.
Agora a roda girou e voltamos para o mesmo lugar. O discurso imperialista voltará a ser o identitário, o que é inevitável, devido às necessidades do capitalismo em sua fase atual.[2] O modelo conservador de império (não estou dizendo aqui se é melhor ou pior) teve seu último agonizar com Trump. Estamos de fato assistindo ao seu sepultamento.
O que nós vamos assistir agora na grande imprensa é uma enxurrada de elogios ao governo Biden. Por outro lado, veremos algumas críticas provenientes do campo conservador, no qual Bolsonaro é o seu maior representante. Briga ideológica entre cachorros grandes que só têm um objetivo: esconder os verdadeiros interesses econômicos imperiais (privatizações, precarização do trabalho, etc.).
Enfim, nada mudou de fato, apenas as peças trocaram de lugar, enquanto o imperialismo continua a todo vapor na América Latina.
[1] https://www.google.com/amp/s/revistaforum.com.br/colunistas/raphaelsilvafagundes/a-popularidade-de-bolsonaro-precisamos-voltar-ao-materialismo-historico/amp/
[2] https://revistaforum.com.br/rede/o-capitalismo-que-esta-contra-bolsonaro-e-trump-por-raphael-fagundes/amp/