"Impeachment" – A palavra voltou à capa da Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (22). O jornalão paulistano já a estampou inúmeras vezes. Uma das últimas foi para apoiar escancaradamente a saída de Dilma Rousseff por ter cometido as tais pedaladas fiscais, crime “hediondo” que 9,8 em cada dez brasileiros não tem a menor noção do que seja.
Não foi uma nem duas nem três vezes que o jornal conclamou e comemorou o impeachment de Dilma. Foram várias manchetes em letras garrafais anunciando que poderia acontecer, que iria ocorrer e, finalmente, que ocorreu, através de, conforme o diário, “uma vitória da democracia”.
O golpe em Dilma – é bom tratar pelo português bem claro – comemorado com ênfase pela Folha, nos levou a “isto daí” que temos hoje. A surrupiada pelo poder do que temos de pior cristalizado no Congresso Nacional, o governo inoperante e transitório de Michel Temer (MDB), até o desequilibrado – pra dizer o mínimo – governo de Jair Bolsonaro (Sem Partido) e seus atormentados colaboradores.
A Folha vem, mais uma vez, fazer de conta que não teve nada a ver com nada e posta, desta vez em letras mais modestas das que publicou outrora, a frase: “Crise sanitária amplia base jurídica para impeachment”.
O jornalão fez o mesmo com a campanha das diretas, na década de 80. Como se não tivesse apoiado a ditadura militar na primeira hora, assim que viu seu castelo ameaçar desmoronar diante de desmandos e da censura, criou o estandarte que salvaria a nação: “Use amarelo pelas diretas”.
Usamos todos sim na época, assim como iremos às janelas e à ruas mais uma vez assim que a pandemia nos permitir, para pedir o fim do governo Bolsonaro. A Folha, por sua vez, que ainda tentou puxar o freio de mão às vésperas das eleições de 2018 com as denúncias da ótima jornalista Patrícia Campos Mello sobre disparos de fake news em grupos de WhatsApp, tenta, mais uma vez, sentar na janelinha da história.
Tudo bem, neste trem sempre haverá lugar para todos, até mesmo os que zanzam pra lá e pra cá feito biruta de aeroporto, ao sabor do vento.
O papel da grande imprensa, sobretudo a Folha, no entanto, não deve tratar nem nunca deveria ter tratado diferentes como iguais, em um movimento que parece se eternizar no seu modus operandi.