Fechamento da Fafen-PR asfixiou a economia e as vítimas de Covid-19 em Manaus e Belém

Fechada há um ano pelo governo Bolsonaro, Fafen-PR poderia produzir 30 mil metros cúbicos de oxigênio por hora

Fafen-PR/FUP
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Há exatamente um ano, o fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobrás no Paraná - Fafen-PR, foi anunciado pela diretoria da Petrobrás, surpreendendo os mil trabalhadores da unidade, que foram sumariamente demitidos. Não houve qualquer negociação com a FUP ou o Sindiquímica, o que levou a categoria petroleira a iniciar uma greve em fevereiro do ano passado, que durou 21 dias.

Naquela greve histórica, os petroleiros do Sistema Petrobras paralisaram 120 unidades do Sistema. Entre as pautas contra o desmonte da Petrobras estava a defesa da Fafen-PR, única fábrica brasileira a produzir uréia sem formol para ração animal. Avisamos aqui que o fechamento da Fafen-PR prejudicaria a saúde do povo brasileiro. E, infelizmente, a população já está sentindo na carne o resultado da política privatista e de desindustrialização do governo Guedes- Bolsonaro.

O que o Brasil perdeu com o fechamento da Fafen-PR

Operando desde 1982, a Fafen-PR foi adquirida pela Petrobrás em 2013. Usando resíduo asfáltico (RASF), a unidade produzia diariamente 1.303 toneladas de amônia e 1.975 toneladas de ureia, de uso nas indústrias química e de fertilizantes. A planta também produzia 450 mil litros por dia do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32), aditivo para veículos de grande porte que atua na redução de emissões atmosféricas. A planta ainda tinha capacidade de produzir 200 toneladas/dia de CO2, que é vendido para produtores de gases industriais; 75 toneladas/dia de carbono peletizado, vendido como combustível para caldeiras; e 6 toneladas/dia de enxofre, usado em aplicações diversas.

Matéria da FUP mostra que a Fafen-PR, poderia estar produzindo 30 mil metros cúbicos de oxigênio por hora. Isso daria para encher 30 mil cilindros hospitalares, com capacidade média de 20 inalações de 10 minutos.

A Fafen-PR está fechada, com equipamentos se deteriorando e a população sofre as consequências do desmonte do SUS e da produção nacional no Brasil. Manaus depende hoje da solidariedade da Venezuela, para o fornecimento de oxigênio a pacientes graves que estão morrendo asfixiados, sem acesso a oxigênio.

O Sistema Petrobras poderia estar salvando vidas em Manaus

O diretor da FUP e do Sindiquimica, Gerson Castellano, um dos mil funcionários da fábrica de Araucária que foram demitidos como fechamento da Fafen-PR, explica que a separação de ar é um dos processos que ocorre para a produção da amônia, que é a matéria prima utilizada na fabricação da ureia, que era o principal insumo produzido pela Fábrica de Fertilizantes da Petrobrás.

A planta que faz essa separação do ar tem capacidade de ser operada independentemente da produção da amônia e, com uma alteração simples, pode ser convertida para produzir 30 mil metros cúbicos de oxigênio hospitalar por hora. Se a planta estivesse sendo operada em dois turnos de 6 horas, só a Fafen-PR poderia fornecer ao governo 360 mil metros cúbicos de oxigênio por dia. Atualmente, o consumo diário de oxigênio no Amazonas é de 76 mil m³:

A Fafen-PR tem uma planta de separação de ar, que, com uma pequena modificação, poderia ser convertida para produzir oxigênio hospitalar, ajudando a salvar vidas nesse momento dramático da pandemia, que atinge novos picos em diversos estados do país”, informa o petroquímico.

Privatização e desindustrialização aumentam a dependência do Brasil e atacam a soberania nacional

O Sindicato Popular vem denunciando o acelerado processo privatista e destruidor da produção nacional e da capacidade de recuperação do Brasil. O fechamento da Ford, desmonte da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil são apenas alguns exemplos.

O fechamento da Fafen aumentou dependência da importação de fertilizantes da agroindústria brasileira.

A Fafen-PR garantia o abastecimento de cerca de 30% do mercado brasileiro de ureia e amônia, seu fechamento também impactou fortemente os moradores da região de Curitiba e Araucária. Alguns trabalhadores tinham mais de 20 anos de casa e ainda não conseguiram se recolocar no mercado de trabalho um ano depois. Mas como alerta Castellano: “Uma unidade como a nossa quando fecha, não significa apenas a perda de empregos e tributos. A sociedade perde tecnologia e condições de mudar o país. E nesse caso, perde também condições de salvar vidas. A desindustrialização vai muito além do desemprego em massa, ela causa prejuízos generalizados para a sociedade”.

Com informações da FUP e Gerson Castellano