Desde o chamado “escândalo da Wikipédia” em 2014, no qual os perfis na enciclopédia digital de Carlos Sardenberg e Miriam Leitão teriam sido adulterados pelo “Palácio do Planalto”, a mídia corporativa sacrifica seus jornalistas à humilhação pública para criar uma estratégia semiótica de “isenção”. Desde o primeiro dia de Governo Bolsonaro, docilmente os jornalistas se submetem aos “cercadinhos” e agressões do presidente, enquanto seus patrões se limitam a notas protocolares de indignação. E os editoriais passam o pano. É o jogo do Consórcio Militar-Judiciário-Midiático que facilmente coopta as esquerdas: agora festejam a suposta “atuação inédita da oposição ao presidente nas redes sociais” - as mais de um milhão de mensagens uníssonas repetindo a pergunta “presidente, porque Michellle recebeu 89 mil de Fabrício Queiroz?”. Apenas dão pernas às notas burocráticas da grande mídia e associações de imprensa. Como sempre, reativamente continua prisioneira da pauta agendada pelo Consórcio.
Os leitores devem se lembrar do “escândalo da Wikipédia”: a “denúncia” de que os perfis na Wikipédia dos jornalistas Miriam Leitão e Carlos Sardenberg, da Globo, teriam sido adulterados com a inserção de difamações e críticas. E a suspeita estava no Palácio do Planalto porque o endereço virtual teria vindo de uma rede de wi-fi pública do local... que o jornal O Globo dizia ser “da presidência”.
Naquele momento de início do período crítico da guerra híbrida brasileira, a grande mídia inaugurava as bombas semióticas das não-notícias – tipo de jornalismo no qual o próprio jornalista cria fonte para turbinar uma não-notícia. E no caso, uma fonte em que a própria Wikipédia negava a si mesma como fonte primária de informação – sobre isso leia o trepidante livro desse humilde blogueiro “Bombas Semióticas na Guerra Híbrida Brasileira (2013-2016): Por que aquilo deu nisso?” – clique aqui.
Bomba semiótica autofágica, em que a emissora oferecia suas próprias estrelas do jornalismo como vítimas de um suposto acharque autoritário da presidência na tentativa de intimidar a liberdade de imprensa, da crítica e bla,blá, blá...
É notório que desde o primeiro dia do governo Bolsonaro os repórteres estão sendo deliberadamente oferecidos à imolação pública pela mídia corporativa.
No dia da posse no dia primeiro de janeiro de 2019, Bolsonaro fez questão de humilhar os jornalistas: todos foram obrigados a ficar confinados num cercadinho sob a mira de snipers espalhados pelos prédios da Esplanada dos Ministérios. Como um recado de que não poderiam fazer movimentos suspeitos para fora do cercado...
Desde então, o capitão da reserva dublê de presidente criou uma estratégia de comunicação na frente do Palácio da Alvorada em que não só ridicularizava repórteres de plantão com ofensas (e galhofas, como envolvendo um comediante, o “Carioca”), mas também os submetia ao assédio dos grupelhos apoiadores do dignatário. Confinados em outro cercadinho, diariamente os repórteres ficavam entre as ameaças de Bolsonaro e dos apoiadores ensandecidos de extrema-direita.
Uma humilhação diária diante da qual a mídia corporativa e associações de imprensa limitavam-se a protestos e indignações protocolares em torno da tão prezada “liberdade de imprensa”.
Mise en scène semiótica
Depois de um curto período do chamado “Bolsonaro Paz e Amor” no qual o presidente calou a boca, deixando o protagonismo para o campeão do neoliberalismo Paulo Guedes (para a euforia dos analistas econômicos da grande mídia), eis que num rompante a verve retorna: o presidente não gostou ao ser questionado por um repórter de “O Globo” sobre os cheques que teriam sido depositados por Queiroz na conta da esposa Michelle. Ameaçou o repórter: “minha vontade é encher tua boca de porrada” – lembrando os “melhores dias” do velho general Newton Cruz dos tempos da ditadura militar, que chegava a sair no braço com repórteres.
Qual a reação da mídia corporativa a mais esse ataque? Notas protocolares, como a lida por Tadeu Schmidt quase no final do Fantástico do último domingo. Os mais otimistas esperavam um “bafão”, com direito a notícia na escalada do programa dominical com um histórico das agressões presidenciais etc. ... mas nada. Apenas leituras de notas de repúdio “indignadas”.
Para esse Cinegnose tudo não passa de uma mise en scène de guerra semiótica criptografada. Tudo porque sabemos que a grande mídia está umbilicalmente associada ao consórcio com os militares e o Judiciário. Ela equilibra-se entre criar uma aparência, de um lado, de que é contra os extremismo tanto de direita quanto de esquerda (o primor de editorial da Folha “Jair Rousseff” é um exemplo); e do outro, ter de obrigatoriamente apoiar um governo que está implementando o saco de maldades da agenda neoliberal – com apoio irrestrito das casas do Congresso, que blinda Bolsonaro de qualquer ameaça de impeachment. Ameaça que, em si mesmo, já é uma mise en scène semiótica.
Por que “semiótica”? Porque coopta as esquerdas ávidas por entrarem, nem que seja como penetra, nessa “festa”.
Na blogosfera progressista festeja-se uma “atuação inédita da oposição ao presidente nas redes sociais”: as mais de um milhão de mensagens uníssonas repetindo a pergunta “presidente, porque Michelle recebeu 89 mil de Fabrício Queiroz?” marcando a conta de Bolsonaro foi festejada como “comportamento diferente das habituais mobilizações em massa na rede”.
Esquerda é reativa
Será que finalmente a esquerda está ganhando a hegemonia da direita alternativa (alt-right) no campo digital?
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