Muitos têm dito que o coronavírus é “democrático”, porque não faria distinção entre pobres e ricos. O apresentador milionário Roberto Justus, por exemplo, bradou que “tá todo mundo no mesmo barco”. Se é verdade que o vírus se manifesta biologicamente de forma semelhante em quem quer que seja, também é fato que são os recortes de classe e raça – em um país erguido a partir da superexploração de sua classe trabalhadora, especialmente negra e indígena – que demonstram quem ele afeta mais duramente na prática.
Em pesquisa divulgada nesta quinta (02/07), cientistas da USP e da UNIFESP analisaram um grupo de 1.183 pessoas, acima dos 18 anos e de diferentes regiões da capital paulista. Encontraram, entre outras coisas, quase o triplo da presença de anticorpos (o que significa apenas que a pessoa teve contato com o vírus, sem garantia de imunização) em moradores dos distritos mais pobres (16%) em comparação com os de distritos mais ricos (6,5%).
Ainda de acordo com a pesquisa, quando comparamos o percentual de infectados e o grau de escolaridade, 22,9% das pessoas contaminadas não completaram o ensino fundamental, contra apenas 5,1% das que possuem ensino superior. Outra diferença estrutural, agora a de raça, também foi exposta pela pesquisa: 19,7% da população negra analisada detém anticorpos, enquanto para os brancos o percentual é de apenas 7,9%.
Portanto, é falso que se trata de um vírus “democrático”, que acomete a todos indistintamente. Não à toa os ricos sempre menosprezaram a doença e suas consequências. Afinal de contas, o que, para eles, não passou de uma “gripezinha” representa, para os/as trabalhadores/as, uma brutal violência estrutural de classe.
Então, a imunização de rebanho do governo Bolsonaro-Mourão é simplesmente a exposição da classe trabalhadora brasileira à morte para, assim, preservar a vida e os lucros das classes proprietárias.
Para salvar vidas, fora Bolsonaro, fora Mourão.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum