*Por Thais Maruoka
Ser mãe não é fácil. A vida vira de ponta cabeça, você é cobrada de coisas que nunca seria se não tivesse filhos.
Mas o parceiro cobra filhos, os pais cobram netos, os irmãos cobram sobrinhos. “A idade cobra”, diz a sociedade. “É natural que chegue a uma certa altura da vida e seu corpo comece a pedir por um filho”. Mentira.
Quem pede filho é a sociedade. É a imagem da família perfeita depois de um casamento na igreja com vestido branco. A mesma sociedade que depois te oprime, te exclui, te esquece quando você se torna mãe.
Quem pede filho é o parceiro, que precisa de uma criança para chamar de “sua”, carregar seus genes e continuar sua família. O mesmo parceiro que depois não fica do seu lado em todas as madrugadas, divisões de tarefas e decisões importantes da criação.
Quem pede um filho é a amiga, a prima, a vizinha que quer um bebê fofo para segurar. As mesmas que depois continuam a vida da mesma forma enquanto a sua parou no tempo para cuidar daquele ser tão dependente.
Se você está na dúvida se tem um filho ou não, não tenha! Não quero te desencorajar a viver um dos melhores momentos que já vivi. Não quero tirar de você uma experiência que pode ser a mais incrível da sua vida, mas eu quero, do fundo do meu coração, que você saiba que por mais que você tenha apoio nesta jornada, você muitas vezes estará sozinha. E esta viagem vai ser longa, muitas vezes difícil e solitária.
Você chorará escondida, passará noites em claro e dias implorando por uma dormida. Sentirá o vazio tão cheio e o silêncio tão barulhento da maternidade.
É a sua vida que vai mudar completamente. A de mais ninguém. O pai não abdica nem metade das atividades, se comparado a você, e não adia nem um quarto dos planos.
E não, não é porque ele é ausente, porque não é um pai ativo ou que não se interesse pelo próprio filho. É porque um dia disseram que a mulher que leva jeito para isso, a mulher que é primordial para a cria, ela que precisa cuidar e estar presente quando ninguém mais estiver. E assim temos obedecido. E assim a sociedade tem funcionado.
Então, se você tem dúvida se tem filho ou não, te convido a fazer esta reflexão: é você que quer de verdade ou é esta mulher querendo cumprir seu papel imposto pela sociedade?
Lembre da gravidez, saiba do puerpério intenso, das dezenas de dificuldades em amamentar, da dor da solidão e do esquecimento de você mesma. Saiba das dores físicas e emocionais, das dificuldades e da exaustão. Porque sim, precisamos falar sobre isso. A maternidade não pode ser vendida apenas como algo simples, instintivo e belo.
Mas se mesmo assim você quiser ter filho, acho maravilhoso! Toda a transformação, o aprendizado, o autoconhecimento, as experiências, o amor incondicional que chega a doer de tão bom, também vão chegar para você. E aí eu te dou boas vindas, te parabenizo, te abraço e comemoro junto, feliz!
Mas isso só mesmo se quem quiser ter filho for você. Me promete?
*Thais Maruoka é jornalista, mãe de 3 e podcaster. Idealizadora do podcast sobre maternidade (e vida) Em Casa a Gente Conversa, também está no Instagram e no Facebook