Bolsonaro venceu as eleições de 2018 com um discurso cunhado ainda em 2013 por Deltan Dallagnol em sua estridente luta contra a PEC 37 e pelas 10 medidas (draconianas) contra a corrupção.
O discurso? De que a política como um todo é ruim, de que todo político é do mal. A consequência disso nós já sabemos. Um distanciamento ainda maior da população com a política e um desejo irrefreável por mudanças sem saber muito bem para onde ir.
E como um trem desgovernado, não deu em outra, chegamos em 2020 com um presidente irascível e que apela para curandeirismos no combate a uma pandemia que em breve poderá vitimar mais de 100 mil brasileiros. O resultado não poderia ser pior.
Bolsonaro até que flertou e/ou tentou esgarçar a democracia brasileira, mas deu de cara com três “problemas”: o tamanho das nossas instituições, o tamanho da política e a ganância das Forças Armadas.
Acontece que o presidente da antipolítica foi domado pela política. E não apenas isso, Bolsonaro sempre teve um governo frágil e debilitado, tanto é que as maiores dificuldades que o governo federal passou foram geradas pelo próprio governo federal, nunca pela oposição.
E se não bastasse isso, o “faz tudo” da família presidencial foi preso e é investigado em um esquema de corrupção que ocorria no gabinete do filho do presidente quando ele ainda era deputado estadual pelo Rio De Janeiro.
E foi quando Bolsonaro se viu obrigado a apoiar-se no centrão. Seus alucinados e radicais já não bastavam para sustentar o governo, tampouco o gabinete do ódio que está à beira da extinção, alvo de investigações no STF e na PGR.
Vide como se comportou na pseudocrise entre o ministro Gilmar Mendes e os militares, evitou as bravatas, evitou acintes e dedos em riste. Cordialmente, ligou para Gilmar Mendes e fez o intermédio entre o ministro e os fardados. Agiu como manda o molde institucional do cargo.
Hoje, o presidente vive no purgatório político, forte o suficiente para não sofrer um impeachment e fraco o suficiente para não conseguir fazer o que bem entender da política. Viveremos até 2022 com um governo meia-boca, fazendo o mínimo para sobreviver, mas nunca o suficiente para atender as necessidades de milhões de brasileiros.
Com o panorama que temos hoje, é difícil acreditar que em algum momento Bolsonaro terá seu mandato encurtado e já passou da hora da esquerda entender isso e parar de recorrer à feitiçarias para interpretar de forma favorável os resultados de pesquisa de opinião.
Todas as pesquisas colocam a reprovação ao presidente orbitando entre os 30% e 40%. E a aprovação, também, nada muito extraordinária. E a tendência é que a aprovação aumente conforme Bolsonaro se aproxime da política, seja ela do centrão ou não.
A radical Bia Kicis (PSL-DF) foi despachada da vice-liderança do governo na Câmara para dar lugar, provavelmente, ao deputado do centrão Ricardo Barros (PP-PR). Além disso, as pressões para que Pazzuelo vá para reserva ou para que o presidente coloque um político do centrão no Ministério da Saúde só aumentam.
Bolsonaro se tornará um verdadeiro democrata? Claro que não, ele ainda precisa de suas maluquices e cloroquina para agitar a claque que lhe apoia. Mas ele entendeu sua pequenez frente a política.
Não me surpreenderia se, em breve, assistirmos uma cisão no gabinete do ódio, outro grupo que o presidente aos poucos vai abandonando como se fosse peso morto.
E agora que o presidente da antipolítica foi domado pela política, quem será o patrono do discurso? Oras! Voltará para a sua “mãe”, a Lava Jato!
Vejam os noticiários, vejam as manchetes. Deltan, o parceirinho, e Moro, já retomaram o discurso malicioso contra a corrupção como se fossem verdadeiros obeliscos da moralidade.
Em 2022, Moro desempenhará o papel que Bolsonaro desempenhou em 2018: o outsider, o homem da antipolítica, o homem que está contra tudo isso que está aí.
Quem me acompanha não se surpreende. Moro trabalha ativamente para ser o novo líder da extrema-direita do Brasil e busca desbancar Bolsonaro deste posto.