As ligações entre Jair Bolsonaro e Donald Trump vão muito além da relação fã e ídolo já externada pelo presidente brasileiro. A derrubada de 7 mil perfis do movimento extremista QAnon pelo Twitter na última semana - dias depois do Facebook derrubar contas ligadas à milícia digital bolsonarista - revela que a ultradireita desenvolveu e compartilha o mesmo método para manipular eleitores e fraudar eleições mundo afora com fake news e discursos de ódio nas redes sociais.
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A receita, que havia sido aplicada de forma mais tímida contra Hillary Clinton em 2016 e replicada mundo afora pela extrema-direita, tem ganhado força na campanha à reeleição de Trump, que já ostentou o Q gigante que identifica os simpatizantes do movimento extremista nos comícios e atos dos republicanos.
Teses estapafúrdias difundidas em redes sociais e grupos de Whatsapp sobre ligação de adversários políticos com pedofilia e tráfico de drogas, conspirações clandestinas contra candidatos da ultradireita, teorias "satânicas" contra cristãos e "comunistas" contra "valores ocidentais" que, mais recentemente, ganhou força com o vírus chinês produzido por comunistas em laboratório ganham ares de pós-verdade e criam uma nova escala do terror entre eleitores, que são conduzidos sob a vara do medo aos currais eleitorais.
O Movimento QAnon, que teve as contas deletadas pelo Twitter, foi criado em 2017 nos EUA, seguindo a saga "pizzagate", de 2016, quando uma teoria da conspiração ligava políticos do partido Democrata a um esquema de pedofilia tramado dentro de uma pizzaria em Washington.
Em outubro de 2017, no quadro de mensagens anônimas 4chan, um usuário que assinou suas postagens como "Q" - daí o nome QAnon - afirmou ter alta autorização de segurança dentro do governo dos EUA e iniciou a criação das teorias conspiratórios, que se propagaram e ganharam força nas redes.
Q se comunica em postagens enigmáticas e afirma estar diretamente envolvido em uma investigação secreta liderada por Trump de uma rede global de abusadores de crianças.
Nos seus quase três anos de existência, a conspiração atraiu enorme tráfego no Facebook, Twitter, Instagram, YouTube e Reddit, atraindo centenas de milhares, incluindo celebridades e dezenas de candidatos que concorrem ao Congresso estadunidense neste ano.
Além dos planos da tal seita secreta contra Trump, o principal discurso para compor as fake news para as eleições deste ano gira em torno do "vírus chinês", que teria sido espalhado pelo "deep state" - uma relação às profundezas da política que atua nos bastidores - para implantação do comunismo no mundo.
Qualquer ligação com o discurso de ódio e as fake news espalhados por aqui pelo clã Bolsonaro, elaboradas pelo guru Olavo de Carvalho, não são mera coincidência. E cá, como lá, a estratégia do medo por meio da mentira tende a se repetir em 2022 com as eleições presidenciais.