Recentemente, ao assistir uma live do cantor e compositor pernambucano, Alceu Valença, percebi que a audiência batia em centenas de milhares de pessoas simultâneas. O mesmo para a do sambista carioca Zeca Pagodinho e tantos outros. A cantora sertaneja Marília Mendonça bateu o recorde mundial e colocou 3,3 milhões de pessoas ao mesmo tempo assistindo à sua transmissão.
Tudo bem, as lives ganharam força durante o isolamento social provocado pela pandemia do coronavírus, mas não são exatamente uma novidade. O que estes novos e bicudos tempos conseguiram foi nos mostrar o tamanho das possibilidades que elas proporcionam aos artistas e também, é claro, ao público.
Até outro dia, uma transmissão de um evento para todo o planeta era coisa para poucos, muito poucos. De repente, graças à internet, qualquer um de nós pode falar para todo o mundo na hora que quiser, basta ter um computador ou celular e a conexão.
Quando, onde e como um artista seria capaz de reunir mais de três milhões de pessoas em torno de si, o assistindo se apresentar? A escala é proporcional e, sem sobra de dúvidas, as transmissões pela internet conseguem, desde que tenham qualidade e sejam divulgadas adequadamente, dar ao artista, tenha ele o tamanho que for, um público muito maior do que ele teria em uma sala de espetáculos.
É óbvio que o leitor vai dizer que nada substitui uma apresentação ao vivo e ninguém pretende que assim seja. Quem frequenta shows sabe da emoção de estar lá, cantar junto, aplaudir, dançar, enfim, fazer parte do espetáculo. As lives, no entanto, levam a quem se apresenta outras formas de envolvimento e emoções.
Temos tido a informação de vários cantores que, graças a elas, têm conseguido recuperar públicos, cantar para pessoas em lugares distantes, outras cidades e até países, matar com isso a saudade e tornar plausível algo que, até então, era praticamente impossível. Além, é claro, da troca de ideias direta que acontece nos chats, as salas de conversa que acompanham as transmissões.
Tudo muito bem, mas logo a seguir vem outra pergunta fatal. Quem paga por isso? Todos sabemos que a internet é a terra de quase ninguém, o reino das coisas gratuitas. Pois bem, esse é outro requisito que tem sido, de certa forma, contornado e resolvido.
Os grandes artistas, os que já contam com um bom público, têm feito suas lives com patrocinadores. Grandes marcas de cerveja, por exemplo, financiaram as lives do Zeca Pagodinho, da cantora Tereza Cristina, entre outros. Já os mais modestos, contam com doações do público, os já conhecidos “superchats” do YouTube, por exemplo, entre outros. E estas contribuições muitas vezes surpreendem. Uma outra modalidade é uma senha ou chave para participar de um live mediante um pagamento. Essa forma foi, até agora, a que menos pegou.
No final das contas, as lives, muito mais do que uma forma resiliente de enfrentar a nova realidade que está posta, têm se mostrado uma ferramenta poderosa de convívio e troca em todas as áreas possíveis e imaginárias.
Tudo bem que nada supere um bom espetáculo. Mas, por outro lado, o que supera poder espiar a sala da casa do Alceu Valença enquanto ele canta, toca e comenta suas canções?
O Boteco da Fórum
Temos feito, sempre aos domingos, em torno do meio-dia, o Boteco da Fórum. São lives onde o artista se apresenta da maneira que puder e quiser, muitas vezes sem acompanhamento musical e à vontade. As conversas são pontuadas de maneira descontraída pelos jornalistas Dri Deorenzo e Renato Rovai.
Já foram realizadas lives com o violeiro Paulo Freire, Leoni, Áurea Martins, Fabiana Cozza, Choro de Bolso, João Suplicy e Lart Sarrumor, do grupo Língua de Trapo.
No próximo domingo (7) será a vez da cantora Ana Costa e muito mais vem por ai. As lives ficam para quem quiser assistir depois no canal da Fórum no YouTube.