*Por Mariana Janeiro
Vamos pensar a maternidade como um conceito. Para isso, algumas teorias discutem a maternidade como uma categoria ética. E entendem que o problema está na maternidade posta como uma obrigação moral.
É nesse clima de ‘obrigação’ que entra o mito da maternidade. Isto é, a maternidade promovida com um discurso falso que pretende comover as mulheres sobre uma prática que elas ‘deveriam’ ter. Cria-se uma crença colocada pelo sistema patriarcal onde a obrigação e o papel da vida da mulher é engravidar, ter seus filhos e educá-los.
"Menos mulher"
Neste ponto, toda mulher que não quer engravidar é menos mulher. Se é uma obrigação moral, um acontecimento “natural” da vida, por que negar? As mulheres que perdem seus bebês ainda na barriga, por que choram? Logo chegará outro, é o natural. E as mulheres que abortam, como ousam romper com a sua obrigação?
É o feminismo e especialmente as mães com seu maternar político que questionam a ordem das coisas. Que se empoderam para subverter a ordem e a lógica patriarcal. #MeuCorpoMinhasRegras, lembram? Porque quando Judith Butler pergunta quais são os corpos que importam para a sociedade, entendam: nunca é o da mulher.
Maternidade e "salvação"
E a religião tem forte peso nisso. Vamos pensar na construção da imagem da Virgem Maria: Nas imagens das madonas, alguns historiadores justificam que essa foi uma tentativa de ‘desdemonizar’ as mulheres, de tirá-las lugar de bruxas (que era como a igreja tratava a mulher medieval) e colocá-las no lugar de santa. Essa mulher que era pecadora e que resolve não ser mais, que tem na sua maternidade a sua salvação; onde a mulher deixa de ser Eva para se tornar imagem e semelhança da Virgem.
Também pouco se questiona sobre a procriação. Devemos então nos perguntar: POR QUE QUEREMOS E TEMOS FILHOS? São muitos motivos. Mas todos motivos manipuláveis e egocêntricos. Ué, quando alguém já pensou em ter um filho para dar a este filho a alegria de existir nesse mundo? Não vivemos num mundo justo, bom, saudável, seguro ou fraterno. Estamos imersos no caos. Sabemos bem que, com poucos minutos de reflexão acerca da sociedade atual, quem planeja um filho pensaria duas vezes.
E você, o que pensa da maternidade compulsória?
*Mariana Janeiro é mãe, negra, feminista, socialista, filosofa, especialista em comunicação e semiótica. É vice-presidente do PT Jundiaí-SP e Secretária Nacional de Mobilização do PT