Como a PGR e MPF nos empurraram para essa crise com a Revista Crusoé

Leia na coluna de Cleber Lourenço: Se eu acho errada a decisão de mandarem a Crusoé tirar o texto sobre o Toffoli do ar? CLARO QUE ACHO! Afinal de contas, se estivessem mesmo preocupados em combater fake news, teriam cassado o mandato de Jair Bolsonaro logo após sua posse

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Vamos lá, alguns pontos precisam ser bem alinhados até aqui.

A Lava Jato, ao longo de cinco anos, sempre buscou incendiar o país com delações. Várias vezes destruiu reputações de pessoas que, mais tarde, foram inocentadas.

Tudo isso para abrir caminho para o caos que vivemos hoje. Um ex-presidente que era primeiro colocado nas pesquisas eleitorais preso e o juiz responsável pela sua prisão nomeado ministro no governo do segundo lugar nas pesquisas.

Outra coisa que precisamos deixar claro é:

Se eu acho errada a decisão de mandarem a Crusoé tirar o texto sobre o Toffoli do ar? CLARO QUE ACHO! Afinal de contas, se estivessem mesmo preocupados em combater fake news, teriam cassado o mandato de Jair Bolsonaro logo após sua posse. Simples assim.

Me recordo que maioria das pessoas hoje indignadas com a censura (sim, censura) até ontem bateram palmas para os atropelos do até então juiz Sérgio Moro e para a morosidade do STF com processos envolvendo Jair Bolsonaro.

O mesmo vale para a revista Crusoé, que tem como patrono o blog O Antagonista de Mário Sabino e Diogo Mainardi.

Mainardi foi um fervoroso entusiasta de Jair Bolsonaro, fez campanha, palanque, cama, mesa e banho. Este último, por sua vez, é um ávido relativista da ditadura de 1964.

Logo, a Crusoé e seus leitores e defensores, que vivem de fazer vista grossa para 64, naquela ocasião puderam sentir o gostinho do que as redações de jornais viviam nos anos de chumbo.

Acontece que a decisão do ministro Alexandre de Moraes, que foi euforicamente aplaudido pela direita quando assumiu a vaga no Supremo Tribunal Federal, é um destrambelho, foi como se uma arapuca fosse colocada SOBRE (diria Moro) sinais e, mesmo assim, o ministro pulou dentro.

Naquela ocasião havia um sincero interesse do Partido Lavajatista em dinamitar o STF. Afinal de contas, o partido que busca eliminar toda e qualquer atividade política hostil aos seus interesses, primeiro, vê no STF o impeditivo para que ainda não ocorresse uma verdadeira caça às bruxas na classe política, independente de prova, crime ou culpa.

Agora é que as coisas ficam mais interessantes. Ainda em março de 2019, o STF havia informado que iria investigar possíveis agitadores contra o judiciário, entre eles estava Deltan Dallagnol. Acontece que o mesmo Deltan, na mesma semana, também tomou outra invertida do STF.

Após tentar abocanhar o fundo bilionário da Petrobras, o ministro Alexandre de Moraes concedeu liminar para suspender o acordo firmado entre a Petrobras e procuradores da força-tarefa da Lava Jato.

Além disso, ele também determinou o imediato bloqueio de todos os valores depositados pela Petrobras. Na ocasião, a decisão teria sido tomada a pedido da procuradora-geral da República (PGR), que recorreu à Corte contra a criação da fundação.

E melhor ainda! O mesmo Alexandre de Moraes que barrou o fundo bilionário é o mesmo que “censurou” a revista Crusoé, a mais nova queridinha da extrema-direita brasileira.

Ou seja, o Partido Lavajatista encurralou o ministro e o STF. Colocou todos onde queria e, então, apenas assistiu a magia acontecer. A fritura pública do STF com a censura não poderia ter vindo em melhor hora, nem se Deltan pedisse sairia tão bom.

No final, a arapuca dos lavajatistas contra o STF ficou assim:

As informações prestadas por Marcelo Odebrecht sobre quem era o “amigo do amigo do meu pai” estavam em uma delação enviada à Polícia Federal no início de abril.

Porém, a controversa “delação” divulgada pela Crusoé estava desaparecida dos autos desde o dia 12 de fevereiro do ano.

O episódio envolvendo a Crusoé aconteceu em abril do ano passado, porém, um mês antes, em fevereiro, durante uma entrevista para a Revista Época, o ministro Gilmar Mendes declarou que havia um ministro do STF sendo chantageado e que quem promovia essa chantagem era o que ele dizia ser “uma das grandes operações investigativas em curso no país”.

E ele ainda disse: “A toda hora plantavam e plantaram que esse ministro estava delatado. Qual a intenção? Isso é uma forma de atemorizar, porque essa gente perdeu o limite. Este ministro ficou refém deles”.

Quem foi alvo da polêmica envolvendo a Crusoé ano passado? Toffoli! O mesmo Toffoli que hoje causa certa perplexidade em políticos e até companheiros do STF pela complacência com os descalabros do presidente Jair Bolsonaro.

O presidente do STF que deixou de ser bípede ao permitir seguidos ataques contra a moralidade e a honra da instituição sem qualquer reação contundente.

Não é por menos que ontem as reações mais estridentes contra o inquérito eram justamente de procuradores, membros e ex-membros da operação Lava Jato.

Tal afirmação não comprova a participação do ministro em uma conduta irregular, mas serviu para inflamar setores da sociedade, como todo bom vazamento lavajatista. A PGR (que ainda não tinha Augusto Aras) disse não ter o documento, uma vez que nunca teria saído da Polícia Federal de Curitiba. O Partido Lavajatista contou com a presunção dos ministros e acertou em cheio.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum

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