Desculpem aqueles que se apavoraram com o tweet da Janaína Paschoal, lendo sinais de reeleição do Bolsonaro ou com os trend topics de Bolsonaro reeleito, mas estão prestando atenção aos fenômenos e analistas errados.
Embora haja quem tenha interpretado a crueza e a grosseria da reunião ministerial como uma possibilidade de resgatar a aliança bolsonarista com a população que ainda busca uma saída antissistema, é improvável que isso tenha acontecido.
Num cenário de completa instabilidade política, como o que vivemos, muitas são as projeções possíveis e seria um erro descartar precipitadamente qualquer possibilidade.
Mas ainda assim devemos nos manter no terreno das opções mais prováveis e o mais provável é que falas tão extremistas só tenham a capacidade de se comunicar com os aliados mais extremistas.
E na ponta extremista dos apoiadores, a horda fascista está acuada e com medo. Nessas condições, bolsonaristas apoiam Bolsonaro em qualquer caso. Se mostrarem Bolsonaro atirando na cabeça de alguém, eles o defenderão.
Levando em consideração a multiplicidade de apoiadores que um governo necessita para se manter, o governo Bolsonaro não tem mais condições de se sustentar. Cada vez fica mais evidente que ele não chega a 2022, muito menos tem condições de se reeleger.
Não é possível alimentar uma horda de fanáticos por muito mais tempo e, depois que gestos extremistas são tomados, o movimento de retorno e conciliação, inclusive com os eleitores, fica muito difícil.
A barulheira que fizeram é sinal de desespero, não de força.
O que é possível e provável é que esta horda, muito diminuída, aumente em radicalismo e violência. A gritaria é compensatória pela visível perda de apoio, de poder e de autoridade.
Penso que a estratégia de Bolsonaro não mude muito. Ele já vinha se dirigindo apenas para os fanáticos e, já há algum tempo, abriu mão completamente de se dirigir ao povo brasileiro, como um todo.
Ele é o presidente mais radical da história desse país, além de certamente o mais incompetente. Ainda que nesse momento de pandemia do coronavírus ele tenha conseguido transferir com relativo sucesso o preço de sua incompetência para governadores e prefeitos, sua inação, irresponsabilidade e política genocida vai ficar evidente ao término da crise.
A direita está, sem alarde, se reestruturando e se afastando daquele que elegeu.
Generais de pijama, como Heleno, mostram os dentes. E certamente essa é maior incógnita, pois embora seja muito improvável que o Clube Militar venha a embarcar numa aventura ao lado do presidente mais despreparado que o país já teve, nunca se sabe se além de latir, os militares deste grupo estariam dispostos a morder e quantos dentes lhes restam nas bocarras.
Sobremodo porque Bolsonaro, ao pretender armar a população, pretende diminuir o poder das forças armadas.
Do lado dos fanáticos fascistas, a ideia de se armarem e virem pras ruas matar comunistas - que na cabeça deles são todos os que votam em Ciro, em Dória e em Amoêdo - causa regozijo. Logo, era esperado que reagissem à fala de Bolsonaro orgasticamente.
Do nosso lado, não nos cabe ficarmos impressionados com a reação dos seus aliados. Ingênuo foi quem esperava outra reação da parte deles.
Se o momento não é para otimismos de primeira hora, tampouco o é para dar como certa a vitória improvável de um campo que não só está dividido, mas fragmentado. Deixemos o desespero para a direita.
Liana Cirne Lins é professora da Faculdade de Direito da UFPE, doutora em Direito Público e mestra em Instituições Jurídico-Políticas.