- Uma nota antes das notas. Tenho acompanhado a evolução da epidemia por coronavírus em todo o mundo desde o início do processo, em janeiro, lá na China. Ao longo desses três meses, não vi nenhum registro em nenhuma parte do mundo de pessoas se manifestando nas ruas contra as medidas de distanciamento social. Há sim registros de pessoas fazendo filas quilométricas para receber cestas básicas, como em El Salvador, ou para que o governo interceda pelas famílias que não conseguem enterrar seus mortos, como no Equador. Mas cenas de pessoas protestando e dançando de forma debochada segurando caixões de papelão como vimos ontem em São Paulo não vi em lugar nenhum. É chocante.
- O premiê do Reino Unido, Boris Johnson, deixou o hospital no final de semana e gravou um vídeo publicado em sua conta no twitter. No vídeo ele testemunha a “coragem pessoal” dos profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao vírus. Ele nomeou uma enfermeira, da Nova Zelândia e um enfermeiro de Portugal, como seus assistentes de primeira hora no hospital. O médico que o atendeu é italiano. Por fim fez também uma homenagem ao NHS, sistema nacional de saúde, como “imbatível”. O depoimento tem uma simbologia forte por reconhecer dois institutos muito criticados por ele ao longo de sua trajetória política, o sistema de saúde público e a participação dos migrantes na economia do país. É de Johnson a frase: “cidadãos da União Europeia não deveriam tratar o Reino Unido como deles”.
- Houve uma pauta no final de semana que conseguiu romper a barreira do tema único coronavírus. Foi a da construção de um acordo mundial em torno da estabilização do preço do petróleo. Após dias negociando, os membros da OPEP chegaram a um acordo. Na abertura da conferência de negociações, o secretário-geral da OPEP, Mohammed Barkindo, disse: “O coronavírus é uma besta nunca antes vista, que arrasta tudo o que encontra no caminho. Os fundamentos da oferta e demanda estão horríveis”. As tratativas se dão no contexto das divergências entre Rússia e Arábia Saudita que fizeram o preço do barril ter quedas vertiginosas no começo de março. A princípio, OPEP e Rússia fizeram um acordo para reduzir a extração do petróleo nos meses de maio e junho em até 10 milhões de barris/dia (um décimo da produção atual) e incluir outros países como EUA, Noruega, Brasil e México. O acordo demorou mais para ser concluído por conta da discordância do México que disse não conseguir reduzir o montante proposto, o país precisaria produzir menos 400 mil barris/dia e afirmou só conseguir reduzir 100 mil. Diante disso, López Obrador, presidente mexicano, recorreu a Trump que acordou em reduzir mais 250 mil barris/dia em sua cota e que os mexicanos “pagam depois”.
- Em meio à uma grande fratura entre países do norte e do sul, membros da União Europeia aprovaram um pacote de 500 bilhões de euros (cerca de 3 trilhões de reais) para a prevenção e combate a danos econômicos decorrentes da pandemia por coronavirus. Segundo o presidente do Eurogrupo, o português Mario Centeno à imprensa, o pacote prevê três redes de proteção: ao emprego, às pequenas e médias empresas e ao sistema de saúde. Com o pacote, foi amortecido o debate sobre o endividamento comum denominado “coronabonds”. A polarização entre norte sul tem sido representada pela Itália no sul e a Holanda no norte com porta vozes mais contundentes.
- Na América do Sul, o Equador segue sendo o país de maior preocupação geral com relação à pandemia do Coronavírus. As notícias do final de semana e que estão na imprensa dão conta da retirada de quase 800 corpos de pessoas falecidas de suas residências nas últimas semanas somente em Guaiaquil, epicentro da crise. O sistema hospitalar e funerário está absolutamente colapsado. Guaiaquil é a capital da província de Guayas que concentra mais de 70% dos casos do país. Neste momento o governo afirma que há 4000 mil infectados na província, mas este número pode estar subestimado.
- Do Vietnã vem uma notícia interessante que alia assistência social do governo à tecnologia. Uma máquina repartidora de arroz foi instalada no distrito de Tan Phu, região ao sul do país e que concentra pessoas com menos recursos. A máquina funciona 24 horas por dia e só se admite filas de no máximo 10 pessoas por vez. Cada cidadão pode se aproximar e retirar 1,5kg de arroz na sua vez.
- A revista científica Nature, uma das mais prestigiadas do mundo, publicou um editorial em que pede desculpas pelas associações feitas entre o novo coronavírus e a China. Também fez um apelo para que as pessoas parem de usar a associação de forma racista e discriminatória contra a população asiática. O racismo acaba por prejudicar chineses que estão estudando e trabalhando em universidades mundo afora, além de sabotar seu acesso a bolsas de estudos. A revista cita que cerca de 700 mil estudantes chineses estão fora do seu país neste momento. Segundo a revista, “estes jovens vão experimentar disrupturas e perdas de novas conexões e oportunidades”.
- Finalmente a OEA (organização dos estados americanos) deixou um pouco de lado o endosso ao projeto de invasão estadunidense na Venezuela e fez algo pelo enfrentamento da pandemia do coronavirus no continente. Gestões foram feitas nos últimos dias para que os 33 países das Américas que formam parte da Rede Integrada Interamericana de Compras Governamentais (RICG) tenham acesso a um Mecanismo de Negociação Conjunta. Atuaram nas gestões a OEA, o BID (banco interamericano de desenvolvimento), CDB (banco centroamericano de desenvolvimento) e o Conselho de Ministros da Saúde da América Central.
- No final de semana da Páscoa, o Papa Francisco, enviou uma carta “aos movimentos e organizações populares” argentinos para defender que talvez “seja tempo de pensar um salário universal” para trabalhadores informais, pessoas sem ocupação laboral e da economia popular do campo e das cidades que “tenham sido excluídas dos benefícios da globalização”. O Papa se refere, segundo ele, às pessoas que “não tem um salário estável para resistir neste momento” de quarentenas que se tornaram em algo “insuportável”. Também veio do Papa nos últimos dias um alerta sobre a questão da violência contra as mulheres em tempo de confinamento e isolamento social nos domicílios. Nas palavras do Papa, as mulheres em todo o mundo “correm o risco de ser submetidas à violência por uma convivência da qual levam uma carga muito grande”. Países como Ítalia, França e Argentina adotaram políticas específicas de combate à violência contra a mulher em tempos de quarentena. Uma delas é a criação de um código através do qual mulheres podem comunicar em farmácias que estão sofrendo violência e a farmácia repassa a informação para órgãos do estado. Na Argentina o código é “máscara vermelha” e na Europa “máscara 19”.
- Na Europa, mais um país que não havia adotado medidas mais estritas de distanciamento social, a Suécia, precisou fazer mea culpa e voltar atrás. No sábado (11), o primeiro-ministro Stefan Lofven afirmou que o país não estava suficientemente preparado para a epidemia. O país registra hoje quase 900 mortes pelo vírus, enquanto países vizinhos como a Noruega, está com 128 e a Dinamarca com 273. A Suécia manteve abertas creches e escolas de educação infantil, restaurantes e maioria das lojas. As medidas mais flexíveis não impediram o aumento do desemprego. Segundo a imprensa europeia, cerca de 25 mil suecos se registraram como desempregados nas últimas semanas, maior número desde a crise de 2008.
- Outra pauta que tentou roubar a cena do coronavírus no final de semana foi a da erupção do vulcão Anak Krakatoa na Indonésia. A explosão foi ouvida no sábado 11 na capital Jacarta. Não foi registrada nenhuma vítima decorrente da erupção. O evento preocupou pois da última vez em que o vulcão esteve em atividade, em 2018, foi provocado um tsunami na região e a morte de 281 pessoas, além de mais de mil feridos.