Os militares ganharam nos últimos dias protagonismo ainda maior no governo Bolsonaro. Há várias teses sobre o que levou a isso. Uma delas é que o presidente estaria sob ameaça ou chantagem. Conto no próximo parágrafo uma história que ouvi antes da eleição e da qual já tratei alguma vezes no programa Fórum Onze e Meia do Youtube da Fórum.
Um amigo sociólogo que atualmente mora em Minas Gerais me procurou dizendo que um colega de profissão carioca, bastante envolvido com questões de segurança pública, havia tido uma reunião com fontes militares que o alertaram sobre o envolvimento de uma família de políticos na morte de Marielle. Lembrem-se isso ocorreu antes das eleições de 2018.
Este sociólogo carioca ficou sem saber o que fazer. O Rio de Janeiro já estava sob intervenção e o “governador” era o general Braga Neto, que ontem assumiu a Casa Civil de Bolsonaro.
O sociólogo carioca, com quem conversei depois, procurou pessoas que o aconselhassem sobre como proceder. Todas concordaram que as fontes militares que o procuraram o fizeram para que tornasse aquilo público.
Ele, como não tinha elementos suficientes para fazê-lo, preferiu silenciar.
Como já dito, Braga Neto era o interventor do Rio de Janeiro naquele momento. A questão que este é sociólogo e alguns de seus colegas se perguntavam é se ele havia mandado os interlocutores o procurarem ou se não sabia de nada. Afinal, as investigações estavam a cargo da polícia do estado.
Na semana que Adriano da Nobrega é assassinado por uma operação das polícias do Rio de Janeiro e da Bahia (que o governador da Bahia agora afirma que desconhecia), Braga Neto assume o posto mais importante do Palácio do Planalto.
O que uma coisa tem a ver com a outra? Por que os militares estão avançando de maneira tão firme sob a ala olavista? Por que tem ganhado tanto poder num momento em que Bolsonaro não está tão enfraquecido politicamente? Bolsonaro está sob chantagem? Está ameaçado? Não é correto fazer ilações. Não é jornalismo oferecer respostas levianas a essas perguntas. Mas fazê-las é obrigação.
É preciso a partir delas tentar entender se a história contada ao sociólogo carioca ainda em 2018 e a morte de Adriano de Nobrega de uma maneira absurdamente suspeita coincidindo com o avanço dos militares nas estruturas do governo não podem ser um sinal muito pior do que parecem.
As ditaduras avançam nos escombros de uma crise civil. Não foi Jango que levou o Brasil a 1964, foi Jânio Quadros.
Talvez a crise seja mais profunda do que parece. Sob o seu pré-sal pode-se esconder uma lama negra que levaria o país a um colapso. E os militares já estariam se colocando a postos para controlar isso.