A notícia de que o ex-juiz Sérgio Moro foi contratado pela firma Alvarez & Marsal (A&M) para prestar consultoria em sabe-se lá o que para os estadunidenses é um daqueles escândalos que só são possíveis num país desmoralizado como o Brasil de 2020. Depois de protagonizar a Lava Jato, operação judicial que levou à bancarrota multinacionais brasileiras como a Odebrecht e a OAS, o ex-juiz, conhecedor privilegiado de informações estratégicas sobre as ex-gigantes, é recrutado para trabalhar para os que administram suas recuperações judiciais.
Haverá os que dirão que ele tem todo direito de fazê-lo, afinal, não é mais juiz. Haverá os que alegarão que a firma tem todo o direito de contratá-lo, pois no mercado tudo é possível. Moro, que se autointitula professor no Twitter, disse na rede social que ingressava nos quadros da A&M para “ajudar as empresas a fazer a coisa certa, com políticas de integridade e anticorrupção. Não é advocacia”, segundo explica. A firma, por sua vez, nem esconde o que está por trás da contratação. Apresenta o agora managing director Sérgio Moro como ex-ministro da Justiça do Brasil e ex-juiz da Lava Jato, para que ninguém duvide de que desfruta de conhecimento além do convencional para usar em benefício de seus interesses econômicos.
Espantoso? Lógico que não. O que esperar de um ex-juiz que agiu seletivamente durante uma operação judicial para prejudicar um partido político? Que se contorceu para condenar um ser humano inocente apenas pelo ódio e o desejo de pôr abaixo um projeto exitoso de inclusão social? Que teve o desplante de assumir o cargo de ministro da Justiça de um governo que não teria sido eleito se ele não tivesse se dedicado com tanto afinco à destruição política dos opositores, inclusive impedindo a candidatura daquele em que o povo gostaria de votar? O que esperar de um ex-ministro que permaneceu na pasta da Justiça de um governo deletério, cerrando os olhos para inúmeras denúncias de desmando à sua volta, até o instante em que, por ter interesses contrariados, resolveu cuspir no prato em que comeu, abandonando os cupinchas?
Não dá para esperar nada. Só falta mesmo o desavergonhado consultor assumir seu contrato nos Estados Unidos. Segundo o Glassdoor, site de avaliações anônimas sobre empresas, no Brasil, a remuneração média anual de um diretor em São Paulo gira em torno de 510 mil reais. Já nos Estados Unidos, na região de Nova York, a bagatela é de cerca de 430 mil... dólares. Apenas para começar, supõe-se.