A eleição no Recife, infelizmente, é um dos poucos casos, se não o único, em que a detestável onda da “nova política” ganha destaque na imprensa, em face da candidatura da Delegada Patrícia (Podemos), que ficou conhecida em Pernambuco como “Moro de saias”.
Vale lembrar que a primeira a receber a alcunha, Selma Arruda, teve o seu mandato como senadora cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acusada de cometer abuso de poder econômico e arrecadação ilícita de recursos.
O título veio após a delegada tornar-se a titular da Delegacia de Crimes contra Administração e Serviços Públicos (Decasp), da Polícia Civil de Pernambuco, que realizou 15 grandes operações policiais e 49 prisões de prefeitos ainda no exercício do cargo durante a gestão da agora candidata.
O modo de agir é extremamente semelhante à dos artífices da Lava Jato. Demonização da política e, por fim, seus maiores expoentes tomando o caminho direto para a política.
É claro que a “nova política” não ficaria só no discurso. Infelizmente, o simplismo preguiçoso que permeia esse tipo de pensamento também embala a campanha que possui um risível plano de governo de meras seis páginas e que mais parece uma cartinha de boas intenções. O motivo? Segundo ela, a oposição poderia copiá-la!
Obviamente, o único trecho do “plano de governo” dela mais trabalhado (se é que dá para chamar assim) é o tema do fiscalismo em defesa da austeridade. Sim, mesmo após a pandemia mostrar a importância do fortalecimento e robustez do estado, a delegada busca, de forma desenfreada, a austeridade que no resto do país sucateia serviços públicos, devolve o país ao mapa da fome e depreda os serviços públicos de saúde e transporte.
Com isso, temos mais uma “heroica” inimiga da corrupção, recolhendo fama e prestígio em cargos públicos e, consequentemente, ganhando do dinheiro público, dando um pulo de trampolim direto para a política.
Acontece que o debate é muito mais grave. Quando o Congresso Nacional irá trabalhar em defesa da quarentena não só para juízes e membros do Ministério Público, mas também para policiais, sejam eles civis ou militares?
Em julho, o ex-presidente do STF, Dias Toffoli, defendeu uma quarentena de oito anos para membros do Poder Judiciário e do Ministério Público que queiram disputar cargos eletivos.
Precisamos parar de misturar carreiras do Estado com escolhas e preferências político-partidárias. Muitos dos que decidem ir para a política após “combater” a corrupção possuem poder de tomar decisões de alcance público que facilitam o ingresso na carreira política.
A Delegada Patrícia possui, sem tirar nem pôr, a mesma trajetória do ex-juiz Sergio Moro, com as mesmas alegações quando questionada sobre os motivos para sair do funcionalismo público para se lançar na política. Não à toa o apelido de “Moro de saias” lhe cai muito bem!
Notem que Patrícia está licenciada do cargo há cerca de um ano e meio e ainda usa a titulação de “delegada” para fazer campanha, sempre remetendo ao seu trabalho na polícia, uma instituição mantida com dinheiro público.
É mole?
Mais uma vez se faz urgente e necessária, para a manutenção da democracia brasileira, não só uma quarentena, como também a proibição do uso de cargos e patentes como nome para campanha eleitoral.
Está mais do que na hora de nossa política ser “sanitização” contra essa gente que infesta casas legislativas de todo o País.
Não, não é improbidade presumida, é evitar o uso de cargo e dinheiro público como plataforma para interesses políticos pessoais, algo que infelizmente é corriqueiro no país.