Fim do processo eleitoral do 1° turno, momento de fazer as várias análises sobre o que nos dizem os resultados que vêm das urnas. Muitos usam a expressão “festa da democracia” quando falam sobre a importância das eleições. E é uma excelente expressão, pois envolve mobilização de um país inteiro na escolha de representantes diretos do povo para os executivos e câmaras municipais, com o objetivo de se construírem cidades mais justas do ponto de vista econômico, social e ambiental. Não há nada mais importante para construção da democracia do que a possibilidade da participação de todos e todas.
É muito preocupante quando os números de abstenções, votos brancos e nulos são alarmantes, como foram neste primeiro turno das eleições. O de abstenções é o maior em 20 anos (23,15%) e os votos brancos e nulos somam 9,66%. Isso significa que, dos 147 milhões de pessoas aptas a votar, 45 milhões (30,6%) deixaram de escolher seus representantes. Os números de abstenções, votos brancos e nulos desse 1° turno pioram o cenário da construção da democracia em nosso país. Negar a política só atrasa os avanços necessários para a justiça social e para o fim da desigualdade, especialmente, para a classe trabalhadora.
Os resultados que indicam o desinteresse na participação nas eleições municipais deste ano têm como um dos fatores externos a pandemia da Covid-19 para explicar boa parte da ausência de eleitores na votação. Mas não é apenas isso. O altíssimo índice deve-se ao descrédito causado pelo quadro nacional, pelo desastre da política econômica do governo Bolsonaro, em curso, que aprofunda a desigualdade social, aumentando ainda mais o fosso entre ricos e pobres.
Nas eleições de 2016, ano também atípico na política brasileira, com investidas da extrema-direita contra a democracia e o golpe que tirou a presidenta Dilma do poder, as abstenções ficaram em 17,5%. O golpe contra a democracia continuou no decorrer desses quase dois anos de governo Bolsonaro, com seu apoio e incentivo às manifestações contra as instituições democráticas. As abstenções, votos brancos e nulos, em grande parte, se explicam pelo fato de o país ter à sua frente um governo que despreza e sucateia tudo, inclusive a democracia.
Não tenhamos dúvidas, a democracia perdeu, mas a resposta que vem das urnas mostra também um enfraquecimento de Bolsonaro em todas as regiões do país. Dos 13 prefeitos apoiados pelo presidente, apenas 2 foram eleitos. A ultradireita perdeu terreno, o projeto de poder desta força política devastadora, que tanto prejuízo tem causado ao país, se apresenta agora mais enfraquecida.
Apesar de os partidos de centro e centro-direita terem ampliado seu número de eleitos (o DEM, por exemplo, passou de 268 prefeitos eleitos em 2016 para 458), a esquerda também alcançou importantes resultados, ainda que os números se mostrem distantes dos conseguidos pelo adversários moderados (o PT fez 189 prefeitos, o PSOL, 4, e o PCdoB, 46), as forças democráticas se apresentam novamente como esperança em diversas cidades. No segundo turno, que será realizado em 29 de novembro, o PT vai disputar 15 das maiores cidades, como Recife (PE), com Marília Arraes, Guarulhos, com Elói Pietá, Diadema, como José di Filippi, entre outras. É o partido com mais candidatos concorrendo no segundo turno, seguido do PSDB, que disputará 14 prefeituras. E temos as candidaturas de Manuela D’Ávila (PCdoB), com boas chances de vitória em Porto Alegre (RS) e a de Edmilson Rodrigues pelo PSOL, em Belém (PA).
A disputa em São Paulo é emblemática e retrata com muita precisão a desidratação do governo Bolsonaro na maior cidade do país. Tanto pelo fato de seu candidato, Celso Russomano, ter ficado em quarto lugar, com 10,5% dos votos válidos, quanto pela surpreendente ascensão de Guilherme Boulos (PSOL), um candidato que agora representa toda a esquerda. A derrota de um candidato bolsonarista na maior capital do país é de fundamental importância neste momento de embate à ultradireita. Mas tão importante quanto derrotar Bolsonaro em São Paulo é derrotar também a candidatura de Bruno Covas (PSDB), apoiado pelo governador João Doria, que representa o neoliberalismo e a extrema-direita. Os dois, Bruno e Doria, são tão nocivos para a cidade e para o estado quanto Bolsonaro é para o Brasil. A candidatura Bruno-Doria é o retrocesso das políticas públicas implementadas em gestões petistas. Derrotá-los é um importante passo para o projeto da esquerda de retomar a Presidência da República em 2022.
Já no Rio de Janeiro, a passagem para o 2° turno de dois candidatos que não se mostram como oportunidade de mudança (a do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) e do atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) nos coloca um cenário contínuo e intenso de muita luta dos movimentos sociais no combate ao projeto que representa o descaso e o abandono para os trabalhadores e trabalhadoras.
A ultradireita perdeu muito, o centrão cresceu e a esquerda está mais viva que nunca. Só que, para além do que representam os números obtidos neste 1° turno, é preciso destacar o aumento de candidaturas diversas levadas à frente por tantos militantes dos movimentos populares, que colocaram seus nomes nas disputas nas cidades, debateram os principais problemas da população, como projetos de geração de emprego e renda, de moradia, educação, saúde e direitos fundamentais para a dignidade humana. Felizmente tivermos muitas candidaturas de mulheres, negros, jovens, LGTBQI+, de trabalhadores e trabalhadoras das periferias, das favelas e de todos os cantos do Brasil. Deste ponto de vista, foi uma eleição revigorante e isso é muito bom para a democracia.
A eleição ainda não acabou. Temos muito trabalho pela frente neste 2° turno. Nossa tarefa, agora, é ajudar e contribuir decisivamente para eleger as candidaturas comprometidas com as causas sociais, com a classe trabalhadora. Nossa missão não termina com o fim das eleições. Ela é contínua, porque a extrema-direita pode ter perdido terreno, mas está sempre pronta para atacar a democracia, os direitos e as políticas públicas que conseguimos garantir e construir até aqui, tão fortemente atacados pelo governo Bolsonaro e pela burguesia.
Não vamos perder tempo, vamos à luta e combater a direita e a extrema-direita.