O começo do fim, por pastor Zé Barbosa Jr

Muitos empresários da fé, pastores e líderes não foram eleitos no último pleito. A presença do “pastor”, “pastora”, “padre” no nome de urna foi rechaçada por grande parte do eleitorado.

Foto: Tribunal Superior Eleitoral.
Escrito en OPINIÃO el

Se tem uma boa notícia com essas eleições, é a de que o bolsonarismo apresenta seus primeiros sinais de fracasso. Não só o bolsonarismo, mas junto a ele o projeto de poder evangélico fundamentalista. E essa talvez seja a melhor notícia. Tá... Precisamos falar que se a esquerda não acordar, vai definhar também. Os números foram péssimos também para o nosso campo. Como disse na coluna passada, quem mais cresceu foi o chamado Centrão, mas sobre isso a gente conversa em outros textos.

Tenho dito, mesmo batendo de frente com alguns sociólogos, que essa ideia de que o Brasil em breve será um país de maioria evangélica é algo bem complexo. Por quê? Porque, de fato, ele já é, ainda que não se assuma assim. Veja o exemplo: a maioria dos católicos fundamentalistas e da Renovação Carismática é, em essência, uma reprodução do pensamento teológico-evangélico-político da teologia da prosperidade e do domínio. Sem tirar nem por. Com a adição, claro, da figura de Maria.

Se você duvida, assista criticamente aos pregadores desses dois campos e veja as similaridades. A maior prova disso é que hoje ocorre algo inimaginável: católicos que contestam, por conta desse pensamento (que contamina o fazer político), a autoridade do Papa Francisco. E isso porque ele defende os pobres, marginalizados, excluídos... Isso nada mais é que essa “essência pseudoevangélica” das teologias que legitimam opressores.

Mas, um outro fenômeno, e este sim começa a despontar e fazer diferença, deve ser analisado: os desigrejados, os movimentos de inconformação, os ex-religiosos. Já há alguns anos que também surge uma figura interessante no pensar religioso-político: o “evangélico não-praticante”. Gente que mantém a fé, mas não consegue mais fazer parte de sistemas pesados e legalistas, e acirrados agora pelas igrejas que estão envolvidas com essa política nefasta do bolsonarismo (que é maior que o governo Bolsonaro).

Muitos empresários da fé, pastores e líderes não foram eleitos no último pleito. A presença do “pastor”, “pastora”, “padre” no nome de urna foi rechaçada por grande parte do eleitorado. Há ainda os que mantêm os “votos de cajado”? Sim, mas são cada vez menos e a tendência é que esse voto perca força à medida que essas igrejas sejam cada vez mais esvaziadas por denúncias, ou mesmo pelo despertar de uma fé crítica por parte de muitos, como tem acontecido.

Ao mesmo tempo, isso ainda não refletiu nas candidaturas evangélicas progressistas. Elas surgiram aqui e ali pelo Brasil, como uma espécie de contraponto ao fundamentalismo, mas ainda carecem de chão e formação de núcleos reprodutores desse pensamento antissistêmico, que é a essência do evangelho. Boa parte dos poucos evangélicos progressistas que foi eleita o fez por abraçar outras causas e outras identidades, principalmente a da negritude.

Sim, estamos assistindo ao começo do fim deste projeto fundamentalista. Não, ainda não é uma notícia animadora de fato, porque este sistema é híbrido e este projeto é “camaleônico”. Ainda tem muita força e buscará realocar-se no Centrão, mas aponta para falhas na “bolha fundamentalista”, que foi aqui e ali, deslocada de sua “zona de conforto”.

Basta, agora, à esquerda, ter um projeto de formação sério e voltado para essa significativa parcela da população evangélica que está cansada de Crivellas, Malafaias e afins.

E somos muitos! Somos muitas!

Somos!