Parece incrível imaginar, mas o ex-beatle John Lennon completaria, nesta sexta-feira (9), 80 anos. Assassinado aos 40, em 8 de dezembro de 1980, o cantor e compositor talvez tenha sido um dos maiores ícones de juventude e renovação do século XX.
Neste momento, ao redor do mundo, milhares de jornalistas devem estar revendo sua obra, tanto com os Beatles quanto em sua carreira solo, onde lançou álbuns ora irregulares, como “Some Time in New York City”, ora geniais, como “John Lennon Plastic Ono Band”, além de outros experimentais, influenciado por sua esposa, a artista de vanguarda Yoko Ono.
Um exercício interessante é imaginar quantos e quão bons álbuns os cinco tiros de Mark Chapman privaram a humanidade de ouvir.
No período em que foi assassinado, Lennon caminhava a passos largos rumo à maturidade artística. Acabava de ter lançado, ao lado de Yoko, o álbum “Double Fantasy” que, se não foi o melhor de sua carreira solo, com certeza é um dos mais bem acabados e produzidos.
Nele, o ex-beatle voltava a cantar com elegância canções bem construídas. Produzido pelo casal ao lado de Jack Douglas, o álbum tem uma sonoridade impecável. O disco ganhou um Grammy e foi parar, em 89, no 29º lugar da revista Rolling Stone dos cem maiores álbuns de 1980. Pode não ser lá grande coisa para quem já havia tido, em passado recente, o mundo aos seus pés. Mas revela um artista equilibrado, em paz com a vida, sua obra e seu tempo.
Neste momento, começa o exercício de imaginação. Após sua morte, Yoko lançou ainda o póstumo “Milk and Honey”, um bom álbum com sobras das sessões de estúdio do “Double Fantasy”. Nestes dois momentos, o que temos é um outro Lennon, muito mais voltado para a música do que para as atitudes propriamente ditas.
Liberto de uma certa inconstância, parecia lidar com as coisas de maneira mais equilibrada e caprichosa. Algumas gravações da fase solo de Lennon são extremamente avacalhadas, como se quisesse dizer não ao excesso de formalismo do parceiro Paul McCartney e também do produtor George Martin.
Parecia, ao menos nestes dois álbuns, buscar só a sonoridade que já havia alcançado com larga escala com os Beatles. Trabalhava sem nenhum problema com músicos de estúdio e já não sentia tanta pressão por estar ou não nas paradas de sucesso.
Curioso notar que foi exatamente ai, neste período, que os outros dois beatles, George Harrison e o já citado McCartney fizeram alguns de seus melhores discos solo, a despeito da obra-prima “All Things Must Pass”, de Harrison ser uma exceção, pois era uma desova de todas as canções dele rejeitadas pelos membros da banda.
Enfim, nunca saberemos. O que fica de fato para a posteridade, como já dito acima, é a ausência. O tanto que a demente e desequilibrada ação de Chapman nos privou. Posto isto, vale e muito, tanto para quem viveu, quanto para quem ainda não conhece, buscar as inúmeras informações que vão chover sobre John Lennon por estes dias em que ele faria 80 anos.
Vale mais ainda, e sobretudo, voltar sempre à sua obra, principalmente com os Beatles, mas também em vários de seus discos solo. Há um tesouro ali a ser redescoberto. Discos lindos e canções que nos provocam sobre questões cujos temas parecem ser mais atuais do que nunca.