Qual o futuro do emprego no Brasil?

Gilmar R. Silva/Reprodução
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Após a divulgação em 20 de outubro do novo relatório O Futuro dos Empregos, produzido pelo Fórum Econômico Mundial - WEF (o anterior é de 2018), o futuro do mundo do trabalho ganhou ainda mais destaque na imprensa. O documento trata dos novos modelos de negócios, novas profissões e habilidades que os trabalhadores precisarão desenvolver. Evidencia o impacto do aumento da automação em diferentes áreas da indústria no mundo de economia global em que vivemos.  Inteligência artificial, biotecnologia e robótica avançada serão temas de currículos escolares.

Lemos matérias deslumbradas que parecem roteiros para um filme de ficção científica. De acordo com essas notícias, ao invés de controlador de voos de aeronaves ou de um funcionário da Companhia de Engenharia de Tráfego- CET, num futuro próximo, teríamos um controlador de tráfego autônomo, que gerenciaria o tráfego de veículos sem motoristas e de drones.

Este exemplo, reproduzido sem críticas nos principais jornalões, é o sonho da Uber: metrópoles povoadas de carros inteligentes, guiados pela automação, sem motoristas.
A Uber, um exemplo de empresa do futuro descrita no relatório do WEF, pois é um novo modelo de negócio que ocorre por meio de uma plataforma digital global, vem amargando prejuízos ano a ano. Em 2019 o prejuízo ficou na casa dos 8,5 bilhões, no primeiro semestre de 2020 de 3 bilhões. O sonho da Uber de eliminar seu maior "problema" foi postergado. Os motoristas continuam reagindo à superexploração como os trabalhadores fazem desde os primórdios do capitalismo: greves. São os motoristas qu fornecem a maior frota de carros do mundo para a plataforma, além de arcarem com os custos do combustível, do seguro, da manutenção do veículo e empregar a sua força de trabalho e, mesmo assim, a Uber se nega a tratá-los como trabalhadores, não reconhecendo o vínculo empregatício. E os trabalhadores da Uber fazem o que todos trabalhadores fizeram para enfrentar a opressão: se organizam e reagem numa economia futurista com práticas pré-históricas nas relações e trabalho.

As profissões do futuro e as qualificações profissionais do passado
Na lista de profissões futuristas temos várias profissões nascidas com o Big Data: investigador de dados, cientistas de dados, gerente de negócio em inteligência artificial, analista de cidades cibernéticas e os novos corretores de dados pessoais, o grande atravessador da mineração de nossos rastros deixados na internet, para ampliar mercados e nos vender algo material ou imaterial (como as ideologias de políticos, exploradores da fé e outros).
Temos ainda o oficial de diversidade que "visará facilitar a rentabilidade e a produtividade de uma organização e, ao mesmo tempo, promoverá um ambiente de inclusão", um profissional que, diga-se de passagem, fez falta a Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, no Roda Viva.
São muitas as profissões do futuro, algumas já em pleno funcionamento outras ainda nos soam como ficção científica: alfaiate digital, analista de computação quântica, gerente de man-machine e a mais assustadora delas: curador de memória pessoal, profissional que será responsável pela consulta de uma série de públicos específicos, mídia e fontes históricas para refazer e formular experiências do passado, para reduzir o estresse ou a ansiedade que a perda de memória provoca.
Neste cenário futurístico é urgente pensar em qualificação profissional. O Sistema S (SENAI, SENAR, SENAC, SESI) foi criado na década de 1940 por Getúlio para a formação profissional. Governos trabalhistas sempre tiveram essa preocupação com o desenvolvimento econômico. Não foi coincidência que o Sistema S foi revitalizado nos anos Lula, ele próprio, um aluno do Senai, onde aprendeu a profissão de torneiro mecânico que já desapareceu com o processo de automação da indústria automobilística.
As empresas brasileiras sempre usaram o Sistema S, para atender suas demandas imediatas. Mesmo com grande subsídio do governo e pensado para funcionar com gestão tripartite, os trabalhadores nunca tiveram voz ativa nas decisões curriculares do Sistema S. E as empresas nunca investiram na integralidade da educação com o objetivo de formar sujeitos autônomos, com capacidade crítica para resolução de problemas. O Foco dos empresários é o lucro imediato. Formação e qualificação profissional é algo muito diferente de adestrar trabalhador para operar o novo sistema da vez.

Qual futuro, Brasil?
De acordo com o Relatório de Empregos 2020 d WEF, em cinco anos, ao mesmo tempo em que desaparecerão 85 milhões de postos de trabalho, 97 milhões de outros empregos serão criados.
Mas quem os ocupará? A pandemia nos mostrou o tamanho da nossa desigualdade social. Os trabalhadores com menor formação ocuparam os trabalhos mais precarizados da cadeia produtiva e na pandemia nem isso, a sobrevivência ficou a cargo do auxílio emergencial.
Como entraremos na revolução 4.0 sem ministério da Ciência e Tecnologia, sem investimentos na Educação, na pesquisa, com sucateamento de parques tecnológicos e de escolas técnicas e com parcela do país vivendo na idade média?
Como podemos falar em sociedade do futuro, cidades inteligentes e profissões do futuro se ainda lidamos com trabalho análogo à escravidão?
Como pensar em indústria 4.0 se a favela de Paraisópolis ao lado do bairro rico do Morumbi não conta com serviço de banda larga com fibra ótica? Com a Amazônia legal desconectada do restante do país, com o interior de Minas Gerais e Paraná com internet por satélite ruim e caríssima?
De acordo com o Fórum Econômico Mundial em cinco anos, no cenário cenário globalizado no qual vivemos, as máquinas e inteligência artificial tomarão 47% das atividades no mundo do trabalho. Como ficará o Brasil sem projeto nacional e que privatiza e sucateia até mesmo a tecnologia nacional em que era referência no mundo como na prospecção de pré-sal em águas profundas?