O Trabalho na indústria do petróleo é bastante perigoso, especialmente nas plataformas e refinarias. Não é à toa que o treinamento dos petroleiros e as normas de segurança têm de ser levados muito a sério.
Em 1984, em plena ditadura militar, um incêndio na plataforma Enchova, na Bacia de Campos, matou 37 trabalhadores e feriu mais 17. Em 2001, ocorreu a explosão da plataforma P-36 que deixou onze mortos. Nestes dois casos, os sindicatos dos engenheiros e petroleiros denunciavam as péssimas condições de trabalho e a política de metas de recordes de produção impostas pelas gerências, mas nada foi feito.
Em ambos casos a Petrobras vivia um cenário onde os governantes negligenciaram a segurança no sistema Petrobras. Durante a ditadura, os trabalhadores não tinham liberdade e viviam sob forte repressão, durante o governo de FHC a meta era o sucateamento para a privatização.
Na atualidade, oito refinarias do Sistema Petrobras estão na mira da privatização e desde o golpe vêm sofrendo desivestimento/sucateamento: Alberto Pasqualini (Refap), localizada no município de Canoas (RS), Abreu e Lima (PE), Xisto (PR), Presidente Getúlio Vargas (PR), Landulpho Alves (BA), Gabriel Passos (MG), Isaac Sabbá (AM) e a Refinaria de Lubrificantes e Derivados (CE). Entre elas a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba é uma das mais cobiçadas pois está bem próxima do Porto de Paranaguá e fica a menos de 3 horas do Porto de Itajaí, dois dos principais portos do país.
Vivemos um pouco dos dois piores cenários: um governo autoritário e neoliberal que sucateia todo o Sistema Petrobras com a finalidade de privatização. O resultado desta política nefasta é não apenas a destruição de nossa maior cadeia produtiva, mas o risco de mais vidas serem perdidas em grandes acidentes.
O modelo neoliberal na REPAR
O Sistema Petrobras adotou um regime de trabalho de turno ininterrupto de revezamento em escala de doze horas o que já vem afetando a saúde dos petroleiros, somado a isso vem reduzindo o efetivo de trabalhadores em várias refinarias. Na Refinaria do Paraná, houve uma redução de 40% do efetivo dos trabalhadores. Os petroleiros do Sindipetro Paraná e Santa Catarina denunciam os riscos de acidentes de grandes proporções.
Até 2017, 480 trabalhadores somavam o efetivo na operação da Repar, hoje são 300. De acordo com o Sindipetro PR e SC, antes de 2017 já existia a apreensão de que a operação da unidade estava com o efetivo de petroleiros abaixo do mínimo necessário, o que levou o sindicato a fazer denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e ajuizar uma ação contra a empresa que ainda tramita na Justiça do Trabalho. De lá pra cá a redução de pessoal é cada vez maior e a situação de insegurança também aumentou.
A Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária-PR em 2017 aplicou o estudo de O&M (Organização & Método), que resultou na diminuição imediata de aproximadamente 20% dos postos de trabalhos operacionais.
De acordo com o Sindipetro PR- SC esse modelo neoliberal que promete otimizar recursos humanos, aplicado pela direção da Repar para diminuir o efetivo de trabalhadores, é bastante questionado por especialistas da área de segurança do trabalho. Desde o golpe 16 a gestão da empresa perdeu a transparência e a refinaria deixou de apresentar os relatórios mensais de movimentação de pessoal. O Sindipetro denuncia que com 40% menos de efetivo a Repar até o final deste perderá mais 50 operadores com saídas já previstas. Some-se a este quadro o fato de a Repar ser a refinaria com o maior número de casos da Covid-19 somando em junho deste ano 92 trabalhadores que testaram positivo.
Unidade de Destilação e Hidrotratamento (U2100)
Antes da reengenharia neoliberal com a implementação do modelo O&M o número de operadores da Unidade de Destilação e Hidrotratamento (U2100) era de sete operadores. A Empresa estabeleceu que seriam cinco por turno e no feriado de 12 de outubro havia apenas 3 trabalhadores. Em 2013 houve um grave acidente, que causou prejuízos significativos às instalações e a parada de produção da Repar por semanas. Ou seja, o modelo neoliberal é o barato que sai caro, não apenas para os cofres públicos, mas para a vida dos trabalhadores.
O Sindipetro PR-SC denuncia que a gestão da Repar descumpre até mesmo seu modelo neoliberal de gestão, no quesito segurança a Repar tem um Ricardo Salles pra chamar de seu e deixar passar a boiada: "A Repar vive atualmente em condições similares àquelas do ano 2000, quando foram derramados 4 milhões de litros de óleo cru nos rios Barigui e Iguaçu. A empresa culpabilizou trabalhadores, mas a mentira não colou na opinião pública. Agora, em 2020, a Repar novamente é uma bomba-relógio prestes a explodir." E complementa: "Os gestores devem ser responsabilizados pela exposição dos empregados ao perigo no trabalho. O Sindicato vai continuar a fornecer dados sobre o efetivo da Repar na denúncia que tramita no MPT, a fim de subsidiar uma nova ação judicial. Se um acidente ocorrer, a culpa não cairá sobre os ombros dos trabalhadores. Ainda dá tempo de evitar uma tragédia, mas depende da vontade da direção da Repar e da Petrobrás."
Com informações do Sindipetro PR-SC