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OPINIÃO
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Após um impasse político que durou um ano e meio, a Espanha finalmente terá um governo com poderes plenos.
A queda do então primeiro-ministro direitista, Mariano Rajoy (Partido Popular – PP), por denúncias de corrupção (junho de 2018), colocaria fim ao seu governo (2011-18), mas iniciaria um período de desacordos entre setores de esquerda no país.
Durante esse período, dirigindo o país de forma interina, Pedro Sánchez (Partido Socialista Operário Espanhol – PSOE) acabou sendo desafiado no parlamento e duas vezes (abril e novembro de 2019) nas urnas - saindo-se vitorioso entre os eleitores, mas sem condições de estabelecer-se como maioria no parlamento.
Com o fim do bipartidarismo histórico entre PP e o PSOE que marcou a redemocratização espanhola, desde a morte do ditador Franco (1979), as eleições no país ibérico ganharam novas características, dentre as quais o desafio da conformação de forças políticas em um novo ambiente multipartidário.
Preterido pelo PSOE para formar um governo após a eleição de abril de 2019, mais à esquerda, o Unidos Podemos (fundado em 2014) tornou-se única alternativa viável para enfrentar o desgaste de novas eleições, assim como barrar o crescimento da extrema-direita no país.
Como fruto dos protestos que marcaram a crise econômica-financeira (2007-11), setores da moderada esquerda socialista temem setores “mais extremistas” da agremiação liderada pelo professor Pablo Iglesias, em especial diante do problema das comunidades autônomas e os nacionalistas- ao exemplo do caso catalão, basco e galego. Dentre esses estão nomes de destaque, como o sociólogo Manuel Castells, futuro ministro da Educação.
Com um perfil de centro esquerda moderado, Pedro Sánchez (PSOE) não atingiu a maioria qualificada necessária para consagrar um mandato com plenos poderes no parlamento no último sábado (4), mas deve conseguir seu objetivo nesta terça-feira (7) com uma vitória de maioria simples.
Além do Unidas Podemos, conseguiu apoio das formações: Más País, NC, Compromís, BNG e Teruel Existe, em um total de 166 votos. Votaram contra (165 votos): PP, VOX, Ciudadanos, Junts per Cat, Coalizão Canária, PRC. Neste sentido, a abstenção (18 votos) dos partidos nacionalistas, ERC, Bildu e PNV, foi e será decisiva para sair do impasse.
Os socialistas que dialogam com temas polêmicos como a imigração, desenvolvimento econômico com valorização da classe trabalhadora, respeito ao meio ambiente e protagonismo feminino têm sido criticados por seus rivais, principalmente sobre "uma maior autonomia para comunidades autônomas". Para os líderes dos maiores partidos da oposição (PP, VOX e Ciudadanos), dialogar com setores separatistas colocaria em risco a existência do Estado espanhol e da monarquia.
Por sua vez, o PSOE de Sánchez nega que o diálogo com nacionalistas signifique o fim das estruturas do Estado espanhol como conhecemos hoje. Os nacionalistas catalães (ERC), sob ameaça de paralisar o governo, reclamam uma mesa de negociações e anistia para seus líderes presos e exilados. Para conquistar a chamada “investidura” da primeira coalizão de esquerda desde o fim da Espanha republicana, o candidato socialista deverá ter pelo menos 166 votos a favor - uma maioria limitadíssima e perigosa.