Legalidade (o filme) é Gramsci na veia

Quando luzes se acenderam, eu estava em lágrimas, lembrando do meu pai, que se alistou na guerrilha urbana da legalidade. Ao meu lado, muitas senhoras e senhores, com lágrimas nos olhos diziam: "eu fiz parte deste momento".

Foto: Agência Senado
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O circuito nacional começa a projetar o premiado filme de Zeca Brito sobre a campanha da legalidade, conduzida por Leonel Brizola em 1961. Eu assisti ao filme, em Porto Alegre, em uma sessão matinê. O enredo começa meio duro, com interpretações que pareciam namorar com o clichê. A trama parte do cenário da boemia porto-alegrense. É quando aparece o jovem Leonel, belissimamente interpretado por Leonardo Machado (in memorian). E por ele e com ele se discorre a cena nacional. Cenas de hesitações, de medos, mas sobretudo, de coragens. Leonel Brizola encarna o espírito gaúcho da flâmula: "mostremos valor, constância, | | nesta ímpia e injusta guerra, | | sirvam nossas façanhas | | de modelo | | a toda terra." E ele se vale desta disposição para convocar o povo às ruas, com armas nas mãos para garantir a posse do vice eleito. Leonel Brizola assume as transmissões da Rádio Guaíba para falar ao povo. E o povo responde. O filme Legalidade é uma lição do que podíamos ter sido não só em 61. Ele é Gramsci na veia. E fala de disputa de corações e mentes. Foi por conta desta disputa que os sargentos do Terceiro Exército deixaram de cumprir as ordens do golpismo. Foi por conta da galhardia que o Palácio de Piratini não foi alvejado, como estava nos planos. Brizola combateu a força autoritária com a mobilização popular. Algo que foi, talvez, negligenciado por João Goulart quando assentiu com a conciliação com as forças que o deporiam depois. Ao final, o personagem Brizola assevera que vale sempre a pena lutar por um ideal, mesmo que se perca a batalha. ... Quando luzes se acenderam, eu estava em lágrimas, lembrando do meu pai, que se alistou na guerrilha urbana da legalidade. Ao meu lado, muitas senhoras e senhores, com lágrimas nos olhos diziam: "eu fiz parte deste momento". E todos nós, jovens e velhos, aplaudimos o filme e saímos abraçados e irmanados, em uma sessão de cinema, em Porto Alegre. ... "Avante brasileiros de pé Unidos pela liberdade Marchemos todos juntos Com a bandeira que prega a lealdade Protesta contra o tirano E recusa a traição Que um povo só é bem grande Se for livre sua Nação." (Hino da Legalidade)